e me desculpe, tom, se a partir do título estabeleço um diálogo. veio-me tão forte que desejo expor sem cerimônias. porque algumas frases sabem ser porradas, cabendo-nos, então, bem utilizá-las com essa função. é o caso.
quem é que nunca teve medo de amar, não é mesmo, tom?
o pescador, por exemplo, tem dois amores. um bem na terra, um bem no mar.
às vezes, é saudável ser sozinho, você não acha? até a beleza passa sozinha, a da garota de ipanema. acredito que de conflito o mundo já está repleto, portanto, um cadim de paz é sempre bem-vindo. e com isso defendo a ideia de que muitas das relações que estabelecemos com as pessoas nos causam dores e infelicidades. o que era para ser bom, assim não o é. fundamental é mesmo o amor, sem dúvidas. porém, é possível amar lá de longe, lá do mar, daquilo que não sabemos contar. o que nos encaminha a relativizar esse estar sozinho: isoladamente numa ilha não vivemos, então sozinho não somos. é condição humana básica a interação com outros seres, afinal, até mesmo robinson crusoé criou formas de sentir-se acompanhado na ilha onde esteve por mais de trinta anos. contudo, desassociando-nos da condição amorosa, por exemplo, torna-se possível tal viver. sendo assim, confundindo-me todo e quase vulgarmente falando, dá e não dá para ser feliz sozinho.
pois há quartas-feiras em que é só jogar a rede. e puxar.
joão ninguém que nos diga.
mudando um pouco de assunto, e ouvindo outra música, no peito dos desafinados também bate um coração, canta você. e eu leio a palavra desafinados para além do significado básico de alguém que não canta afinadamente: desafinado sou eu, muitas vezes grosseiro; desafinado somos nós, incompreensíveis e insatisfeitos; desafinada é a vida, essa alternância de sentires e razões. e que bom. seria tão mais desgastante se nos mantivéssemos sempre os mesmos, não é? tão insuportável se todo o dia acertássemos acordes e tons. vezemquando é válido ser vinícius de moraes.
quem não pede perdão nunca é perdoado. e também é preciso dizer adeus. à insensatez.
é pau é pedra é o fim do caminho. é o apito da fábrica de tecidos. ora é o corpo na cama ora é a lama é a lama. é a tristeza que não tem fim, a felicidade como a pluma que o vento vai levando pelo ar. que culmina com o medo matando o coração, afinal, é desconcertante rever o grande amor. e se você faz uma canção para esquecer luiza, tom, há quem escreva textos para exorcizar paixões também. minha alma, por exemplo, não canta, ela escreve. mesmo que seja um texto assim tão desprovido de energia. como uma vez me disse uma amiga: é que nos falta intimidade, a mim e a ti.
esperemos, pois, o passarim pousar.
ítalo puccini