terça-feira, 1 de dezembro de 2009

palomar, do xará calvino

      durante a semana que passou, reli “palomar”, do italo calvino.
     um livro belíssimo, escrito com uma sutileza que convida o leitor a ler cada texto e, antes de seguir ao próximo, parar e pensar no que acabou de ler.
      “palomar” é isto, é um livro em que não se acelera. em que a leitura é ritmada, é cuidadosa como a escrita. em que um segundo de distração coloca em risco uma frase de rara beleza e ironia.
     palomar, este nome, “é o nome de um famoso observatório astronômico que durante muito tempo ostentou o maior telescópio do mundo. por intencional ironia, é também o nome do protagonista destes textos curtos de italo calvino, pois este senhor palomar é todo olhos, mas funciona quase sempre como se fosse um telescópio, mas para as coisas próximas do cotidiano”.
     é isto, bem isto. acompanhar o olhar de palomar, e principalmente as impressões e os dizeres e os pensares dos seus olhares é um exercício de aprender a olhar o que não se costuma olhar, e pensar no que não se costuma pensar, a não dizer o que se costuma dizer.
     fico impressionado com a organização dos textos deste livro. com o índice construído minuciosamente. o livro é dividido em três grandes partes: “As férias de Palomar” (1), “Palomar na cidade” (2), e “Os silêncios de Palomar” (3). são três “grandes temas”. e em cada uma dessas divisões há outras, ainda mais específicas: nas “férias de Palomar” há “Palomar na praia” (1.1), “Palomar no jardim” (1.2), e “Palomar contempla o céu” (1.3). na cidade, “Palomar no terraço” (2.1), “Palomar vai às compras” (2.2), e “Palomar contempla o céu” (2.3). e os silêncios de palomar têm “As viagens de Palomar” (3.1), “Palomar em sociedade” (3.2), e “As meditações de Palomar” (3.3). e cada um desses número quebrados contém três textos. ou seja, são 27 textos sobre o sr. palomar e seus olhares e impressões sobre o mundo.
     é encantadora a riqueza de detalhes nas descrições do que vê palomar: a contemplação dos movimentos de uma onda, os amor entre duas tartarugas ou a corrida das girafas.
     o sr. palomar gosta é do silêncio. gosta do ato de observar, de conjectuar, de pensar, mas não de dizer: “O senhor Palomar espera sempre que o silêncio contenha algo além daquilo que a linguagem pode expressar. Mas e se a linguagem fosse na verdade o ponto de chegada a que tende tudo o que existe? Ou se tudo o que existe fosse linguagem, já desde o princípio dos tempos? Neste ponto o senhor Palomar é tomado pela angústia”.
     de pensar coisas assim, principalmente: “’Não podemos conhecer nada exterior a nós se sairmos de nós mesmos’, pensa agora, ‘o universo é o espelho em que podemos contemplar só o que tivermos aprendido a conhecer em nós’”.
     pois o sr. palomar pensa, não diz nada, apenas observa, e leva o leitor a um pensar sem medidas, a um pensar muito provavelmente não pensado, a um estado de consciência ainda não atingido. a um silêncio ainda não experimentado.

ítalo puccini

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

as narrativas de galera: fôlego

      dediquei-me a ler os livros do autor gaúcho daniel galera. não foi agora, não. já se vão umas três semanas. mas foram três livros numa semana só mesmo. livros de leitura pra lá de envolventes. livros de narrativas pra lá de bem escritas.
      daniel galera é autor novo, de apenas trinta anos. tem quatro livros publicados: “dentes guardados” (2001), “até o dia em que o cão morreu” (2003), “mãos de cavalo” (2006), e “cordilheira” (2008). este último, inclusive, ganhou terceiro lugar no jabuti 2009. dos quatro, li três, muitíssimo bem escritos.
      o que mais me impressiona na escrita do galera é a condução da narrativa. é o domínio da mesma. a segurança com que ele conduz os romances. a descrição impecável de cenas e personagens.
      “até o dia em que o cão morreu” foi também filmado. por beto brant e renato ciasca, sob o nome de “cão sem dono”. foi, para mim, o menos envolvente dos livros que li dele, e o mais porra-louca. não chega a ser um livro catártico. é uma novela, eu diria. a escrita é cuidadosa. a seqüência de ações, idem. o final, de certa forma, surpreende um pouco. mas não muito. talvez nisso resida um detalhe das histórias deste autor. uma certa previsibilidade. mas de forma alguma isso torna sua leitura enfadonha. justamente porque a condução se dá pela forma narrativa em si, pelo modo como tais histórias são apresentadas ao leitor. em “até o dia em que o cão morreu” não há como não se aproximar do personagem de mais ou menos vinte e cinco anos, cujo nome não é apresentado ao leitor, que gasta os dias olhando a cidade pela janela, bebendo cerveja e caminhando pela vizinhança. não há como não seguir seus passos (ou a falta dos mesmos), o cão que o acompanha, a relação que ele estabelece (ou tenta) com marcela. não há como não visualizar a porto alegre descrita ali.
__

_____
       e em “mãos de cavalo” essa mesma porto alegre é novamente descrita. com minuciosidade. mas são outros lugares da mesma porto alegre. são, também, outros olhares. é o olhar de hermano, principalmente. mas de bonobo, de naiara, de morsa, de adri. a densidade da narrativa de “mãos de cavalo” é impressionante. o tempo se alterna entre o passado e o presente do personagem. o tempo revive lembranças e explica fatos. mas não cura feridas. não alivia o sentimento de culpa de hermano. a história se mantém em um vai e vem até o final. o leitor balança nesse vai e vem. por ora é preferível parar. mas não há como não continuar. a aproximidade que se tinha antes com o personagem de “até o dia em que o cão morreu” se tem agora com hermano. encantei-me por demais com este livro. até hoje não me sai da cabeça as noites em que, antes de dormir, eu “entrava” na história de uma forma muito intensa, tamanha a força da narrativa.
__

______
      e é essa aproximidade que se terá, depois, com a escritora anita, personagem em “cordilheira”. romance de lançamento da coleção “amores expressos”, que traz histórias de amor ambientadas em diversas cidades do mundo, este livro mais recente do autor gaúcho apresenta ao leitor uma narrativa mais descontraída que “mãos de cavalo”, mais linear na condição de tempo, porém mais envolvente e embaralhada no que diz respeito às ações dos personagens. personagens no mínimo estranhos para anita. argentinos de hábitos bizarros que seguem o lema de viver não suas vidas, mas a vida dos personagens dos livros que eles mesmos escreveram. um pensar sobre vida e arte, seus limites e conseqüências. uma história sobre perdas e recomeços. uma história com um final em aberto.
__

_____
      a escrita de daniel galera pede mais que uma leitura atenta. exige uma re-leitura. sua prosa rica em detalhes, as descrições minuciosas de cenas e atmosferas, e seus personagens apresentados aos leitores convidam a um não-desgrudar-se tão cedo. envolvem e cativam, não pelo que há de bonito, mas pelo que há de verdadeiro em cada um, em cada cena. pelo silêncio que se estabelece.

ítalo puccini

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A vida por meio de histórias. Ou o que há de real e de ficção no que lemos e vivemos

     O ato de ler pressupõe uma leitura não somente de textos, de palavras escritas. Não somente de imagens ou de sons. Mas sim uma leitura de nós mesmos e daqueles com quem convivemos. Ler transcende a força que a própria palavra carrega em si. Ler é criar um sentido próprio a si mesmo e ao mundo ao redor de si. É encontrar-se em um eu ainda desconhecido. Ler é, também e principalmente, saber ler a si mesmo e ao outro com o qual se estabelece uma relação de viver.
     A leitura literária é uma forma de leitura existente. É a leitura em que a liberdade e o prazer são ilimitados (ao menos deveriam ser). Porém, é uma modalidade de leitura, o que significa que há outras formas de leitura, formas estas que até desfrutam de maior trânsito social: jornais, revistas, textos na internet.
     Cada leitura tem uma história própria. Cada texto tem também sua história própria. Assim como cada leitor constrói sua história de leitura. É Lajolo quem afirma que “Cada leitor, na individualidade de sua vida, vai entrelaçando o significado pessoal de suas leituras com os vários significados que, ao longo da história de um texto, este foi acumulando”.
     É por isso que não concebo a leitura como uma atividade inocente. Compartilho da opinião de Lajolo, e também da de Alberto Manguel, crítico literário, para quem “Toda história é uma interpretação de histórias: nenhuma leitura é inocente”. Não há como ler algo sem relacionar a outro algo, ou já lido, ou já ouvido, ou já presenciado. Uma leitura leva à outra. Uma leitura não só de livros, mas também uma leitura de vida. Vivemos nos relacionando. Vivemos nos lendo a aos outros também. Influenciamos e somos influenciados. Nossas histórias, lidas e vividas, embrenham-se em nossa formação de sujeitos e cidadãos que somos.
     Recentemente pude ler dois romances que me fizeram pensar bastante nesse cruzamento de vidas e de histórias. Duas narrativas nas quais vidas se cruzam e se completam, nas quais vamos, como leitores que somos, embrenhando-nos por entre personagens e histórias de vida, mesmo que tudo aquilo não passe de uma ficção bem construída, de uma narrativa que nos envolve, que nos perturba e/ou encanta, e que nos deixa, às vezes, reticentes quanto a nossas próprias vidas e histórias.
     “Rimas da vida e da morte” (Companhia das Letras, 2008), do israelense Amós Oz é o primeiro dos livros que li. Um livro em que o personagem principal torna personagens de livros as pessoas com as quais ele tem contato. Dá “vida” a elas. Cria histórias, em sua própria mente, mesmo sem conhecê-las, somente a partir do momento em que as vê. Um personagem que transita entre a realidade em que vive (que para nós é a ficção que lemos) e a ficção que cria a partir dessa realidade (que para nós se torna uma ficção dentro de outra ficção).
     Em sentido próximo, a história de “Cordilheira”, de Daniel Galera (Companhia das Letras, 2008), também apresenta uma reflexão sobre os limites não definidos entre realidade e ficção quando o personagem argentino Holden cita um escritor guatemalteco que radicalizou ao decidir viver como se fosse os personagens que criava. E a personagem principal deste livro de Galera, a Anita, ao se relacionar com Holden e seus amigos, descobre que há pessoas, sim, que levam suas vidas como se fossem a de seus personagens, dos personagens que eles mesmos criam nos livros que escrevem, o que nos leva a se perguntar se não existem também, aqui nesta “vida real”, pessoas que vivem como personagens de livros que escreveram ou que leram.
     Se é que cabe ainda se discutir isto, estas duas narrativas propõem um pensar a respeito do limiar entre realidade e ficção. O Victor da Rosa, por exemplo, escreveu a mim, certa vez, após uma pergunta minha a ele sobre este assunto, dizendo que, para ele, a dicotomia ficção/real está caindo, e que um terceiro gênero indeciso se abre aí, o qual dá muita liberdade pra criação. Essas duas narrativas são exemplos disso, creio.
     Diz o Ferreira Gullar que a arte existe porque a vida não basta. Gosto disto. Mas, como diz meu amigo Guilherme, e se fosse a vida existe porque a arte não basta? Ou seja, não há segurança para afirmarmos os limites da criação literária. E além do mais, não se pode esquecer que é característica do texto literário a falta de limites e a liberdade de criação e de interpretação.
      Volto ao Manguel para encerrar este texto-mais-de-dúvidas-do-que-de-certezas-e-cheio-de-vazios. No seu último livro, “A cidade das palavras” (Companhia das letras, 2008), ele se pergunta se as histórias são capazes de mudar quem somos e o mundo em que vivemos. Eu acredito que sim. E acredito porque senti – e continuo sentindo – o quanto as histórias que já li mudaram meu eu, mudaram minha forma de pensar, sentir, e de agir no mundo. E o próprio Manguel apresenta uma resposta à pergunta que faz: “As histórias podem alimentar nossa mente, levando-nos talvez não ao conhecimento de quem somos, mas ao menos à consciência de que existimos – uma consciência essencial, que se desenvolve pelo confronto com a voz alheia”.
      Talvez assim nos aconteça, de fato, com quem se torna aquele “último leitor” descrito por Piglia em “O último leitor” (Companhia das letras, 2006). O leitor “extremo, sempre apaixonado e compulsivo; viciado, que não consegue deixar de ler, insone, sempre desperto”, para quem a leitura é uma forma de vida, para quem a literatura dá um nome e uma história, “retira-o da prática múltipla e anônima, torna-o visível num contexto preciso, faz com que passe a ser parte integrante de uma narração específica”. Somos, estes sujeitos-leitores, os últimos leitores, aqueles em busca do sentido experiência perdida, que dão à literatura uma utilidade que ela não comporta. Que dão ao livro o que não se cabe nele. Que dão à vida uma história que não é dela só dela. Que dão à história uma nova vida.

Ítalo Puccini

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

um texto-história para uma história-poema

A vida é costura
___
Uma palavra é um entrelaçamento de letras. Uma história é um entrelaçamento de palavras. E sentires.
_____A vida é por um fio. Sempre.
____Às vezes, um entrelaçamento de fios. Mais das vezes, embaralhados.
____Viver é desfiar palavras.
____João sabe disso.
____Que João?
____O “João por um fio”, criado pelo Roger Mello.
____João tem uma história própria. Este João. Uma história dele. Sobre ele. Uma história que ele deixou compartilhar conosco, seus leitores.
____Conhecer histórias é viver também. Um cruzamento de histórias. Costuras de vida.
____A história deste João começa assim:
______João se pergunta, ao dormir: “Agora sou só eu comigo?”.
_____Pode ser, respondemos. Como pode não ser.
_____João sonha quando dorme. O que significa que nem sempre seja ele com ele somente. E há os leitores, claro, que o acompanham enquanto ele dorme.
____Os leitores a quem cabem algumas perguntas de respostas-não-prontas:
____“Onde é que se esconde a noite que beija João?”
“Quem tem medo de um gigante chamado João? Ou quando é que o gigante dorme?”
“Se João cai no sono, com que paisagens ele sonha?”
“E se o medo derrama, João é que abre a torneira?”
“Que rede segura um peixe maior que a gente?”
“De que tamanho é o furo na colcha que cobre João?”
“Como se para um furo que não para?”
____De repente, eis que, num susto, João acorda, e se preocupa: “Quem desfiou minha colcha?”.
_____Nós, leitores, sabemos quem foi. Ou como foi que a colcha se desfiou. Mas não podemos falar a João. Não podemos porque ele precisa descobrir o desenrolar da sua colcha. Ele precisa sentir como isso aconteceu. Ele precisa aprender a costurá-la novamente.
____E João mostra saber disso: “No meio do vazio viu palavras espalhadas no chão”.
_____Então, ele resolve costurar palavras “como retalhos numa colcha”. E, ainda mais. “Enquanto costura, João inventa uma cantiga de ninar”.
_____Faz mais do que imaginávamos. Surpreende-nos.
_____E a nós, que acompanhamos João assim de perto, fica a pergunta: “De que tamanho é a colcha de palavras que cobre João?”.
____Mas não nos fica somente esta pergunta. Por trás dela há outra, que João espertamente nos deixa:
______De que tamanho é a colcha de palavras que nos cobre?
_____E, para respondê-la, cabe-nos fazer como João: ao sonhar, desfiar a colcha que nos cobre, abri-la, explorá-la. Expormo-nos. E, depois, costurarmos palavras que nos cobrirão novamente.
_____A vida são ciclos, mostra-nos João.
____A vida é um se despir para se conhecer.

Ítalo Puccini

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

o livro é. apenas. o amor é. também.

     reli o livro “as mãos”, do manoel ricardo de lima.
     já havia lido esse livro anos atrás.
     encontrei-o na biblio do sesc. peguei-o. li-o.
     gosto desse livro. gosto da narrativa – intimista, a meu ver – criada pelo manoel. da narrativa que, segundo consta na orelha do livro, tem pretensão de ser de amor, mas que nem por isso seja: “Este livro é só uma história de amor, como acredito que seja qualquer história de amor: uma alegria, uma impossibilidade, um gesto, um confinamento, uma delicadeza”.
     é um livro dividido em cinco capítulos: um, dois, três, quatro, um. começa onde termina. termina onde começa. como o amor, não? ou melhor, sem começo e sem fim. não é para ser entendido. como o amor. “este livro é somente”, ainda consta na orelha. começa com “um confinamento de tempo, tudo é dentro de casa. Entre paredes”. termina com “é que Lá fora, custa-me dizer, não existe mais”. é onde vírgulas e pontos se perdem.
     deixo aqui um trechinho. aquele que eu mais releio. não sei o porquê. nem há necessidade de se saber. apenas é. como o livro.
     “Apanhava as mãos, soltas, enrijecia os músculos do antebraço, erguia os ombros a cada tom mais alto, ou mais baixo, tanto fazia, creio, era sincero vê-La dar ordem ao piano, cantar: dizia a Ela, das mãos. Dizia do aperto, da frouxidão de existir, da possibilidade de terminar a canção, daquele fim de passeio ao piano, do preenchimento da casa, e me dava. Sem diminuir o nariz, para frente, cheirava o ar, fundo, olhava sério, sorria e me repetia a frase que um dia disse, eu, sem querer, em caminhada pelo parque, em dispersão sobre música poesia e água corrente, sobre a forma que Ela delineava o piano e sobre a atenção que me engolia estar ao lado, estivesse onde, fazendo o que fosse, parava tudo para ouvi-La, vê-La: Perto não se fica a quem não se conhece as mãos. Sorri, tímido, mas sorri com alegria que nem longe agora imagino descrever, nem conseguiria. Tudo está, parece-me, desapercebido” (p. 17)
     ah, e reler esse livro me fez voltar a ouvir nei lisboa.

ítalo puccini

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

sobre contar histórias e galinhas


a
a

a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a


“O segredo do poder da história é a compreensão essencial de que o importante não é o que acontece na história. O que vale é o que acontece dentro de nós, que a ouvimos. Na verdade, o personagem não existe a não ser em nossa invenção. Fomos nós que manifestamos todos os personagens e mesmo a paisagem, a partir de nosso interior, como um discípulo materializa a energia de uma divindade dentro de si durante a prática e a oração”. ("Através do terror da história", Laura Simms, no livro "Baús e chaves da narração de histórias", editora do SESC/SC, 2006, p. 64)
_______________
     esse trechinho, que aqui tem pretensão de epígrafe, me remeteu a duas histórias recentes que li e reli. duas histórias sobre galinhas. duas histórias que convidam o leitor a, não só ouvi-las, mas também a recriá-las.
     eu já tinha escrito aqui sobre o livro “As frangas”, do caio fernando abreu. na verdade, havia copiado aqui um trechinho do livro. e agora copio outro, bem pequenininho, que diz assim: “Acho que a melhor história sobre galinhas que eu conheço chama-se A vida íntima de Laura. Laura era uma galinha, claro. Lendo esse livro você vai descobrir que as galinhas também têm uma vida íntima. Quem contou a história de Laura foi uma grande escritora, a Clarice Lispector. Ela entendia muito de galinhas. De gente também”.
      aí, eis que me deparei com “A vida íntima de Laura”. não tive recusar a leitura. a vida da galinha Laura é contada tão lindamente pela clarice! é como se ela, a autora, conversasse com o leitor.
      ela começa explicando o que é vida íntima, e pede ao leitor para que faça o favor de gostar de Laura. aí, clarice conta algumas coisas sobre Laura, como por exemplo: é casada com o galo luís, tem o pescoço mais feio do mundo, é burrinha, tem pensamentozinhos e sentimentozinhos, não gosta de pessoa alguma, “na maioria das vezes tem o mesmo sentimento que deve ter uma caixa de sapatos”, e é a galinha que mais bota ovos. ah, ela ainda se torna mãe na história.
     e a história de laura termina assim: “Acabou-se aqui a história de Laura e de suas aventuras. Afinal de contas, Laura tem uma vidinha muito gostosa. Se você conhece alguma história de galinha, quero saber. Ou invente uma bem boazinha e me conte. Laura é bem vivinha”.
     e foi daí que o caio fernando abreu resolveu inventar a sua história sobre galinhas: “Foi por isso que resolvi escrever esta história. Eu gostava muito da Clarice e queria agradar um pouco a ela”. e na história do caio, ao invés de uma só galinha, ele fala sobre oito franguinhas, que é como ele chamas as galinhas. as franguinhas são a ulla, a gabi, as três irmãs (maria rosa, maria rita, e maria ruth), a otília, a juçara, e a blondie. são aquelas franguinhas de se colocar em geladeiras, de porcelana, sabe? todas franguinhas que o caio ganhou de pessoas próximas. e ele conta essa história da mesma forma que a clarice conta a da laura, conversando com o leitor, como se tivesse contando assim, na frente de quem tá lendo e ouvindo. ó um trechinho pra mostrar: “(...) eu não inventei quase nada da Ulla, da Gabi, da Maria Rosa, Maria Rita e Maria Ruth, da Otília, da Juçara, da Blondie. Elas existem mesmo, são bem como eu disse. Estão em cima da geladeira aqui de casa pra quem quiser ver. Vem tomar um guaraná comigo que eu te mostro”.
     e o caio também encerra a história convidando o leitor-ouvinte a contar uma história, seja de franguinhas, ou não: “Se você quiser, invente uma história e mande para mim. Se for história de franga, melhor ainda. Prometo ler pra elas ouvirem. (...) A coisa que uma pessoa mais precisa na vida é gostar das outras pessoas e ser gostada, também. Aí, pra ser gostado, a gente escreve histórias. Você gostou dessa? Daí está tudo certo, porque então você gostou de mim e eu gostei de você também”.
      tá feito o convite. da clarice, do caio, e meu. mas eu ainda não contei minha história, não. preciso pensar numa.

ítalo puccini

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

mais de marcelino freire






















     no momento em que fui guardar “rasif, mar que arrebenta”, do marcelino freire, na estante da biblio do sesc, encontrei outros dois livros dele, também de contos. Foi um movimento só, colocar lá “rasif”, e tirar de lá “angu de sangue” e “baléralé”.
     outros dois livros com contos fortes, escritos com precisão, com coragem, com sensibilidade cruel. "angu de sangue" apresenta caroços sociais dos mais reais (perdoem-me a frase cacófona), com uma linguagem que explora os limites do gênero. Ora são diálogos indiretos e ferventes, ora é uma conversa truncada, repleta de vazios, de incompletude; como a vida.
     escreveu assim o marcelo mirisola, na orelha do livro: “Taí. O ‘estar fudido’ é o único destino honesto que um autor pode desejar aos seus personagens e leitores”. e é preciso aceitar essa oferenda. como é preciso sentir o que vem por aí ao se deparar com a epígrafe do livro. cortantes palavras do ariano suassuna: “Eu precisaria de alguém / que me ouvisse. Mas que / me ouvisse sentindo cada / palavra como um tiro ou / uma facada. Cada palavra / e seu significado / sangrento”. angu de sangue é bom para ouvi-las.
     já “baléralé” é um livro em que nos contos são exploradas questões como a individualidade das personagens: confusões mentais, estados emocionais, opções sexuais (êta frase horrível! de novo!).
      se em “angu de sangue” é perceptível uma denúncia social através de personagens escancarados ao leitor, em “baléralé” os contos exploram muito mais as identidades sexuais das personagens. há cenas fortes de sexo, intimidadoras, que podem assustar algum leitor mais desavisado. e a força da escrita do marcelino freire fica ainda mais evidente neste livro. não há um desgaste no trato com as palavras. os contos são em sua maioria curtos, precisos, sem mais nem menos. chegam e socam o leitor. simples e cortantes.

ítalo puccini

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

cores e passarinhos

     na quarta passada, no prolij, a sueli cagneti leu o livro “para criar passarinhos”, do bartolomeu campos de queirós. é edição nova do livro, feita pela global, agora em 2009, com ilustrações do guto lacaz. coisa mais linda do mundo o livro! de um cuidado extremo, belíssimo!
     é um livro de cores e passarinhos. cores vivas, que causam no leitor uma sensação boa, gostosa, alegre. e o texto do bartolomeu é também cheio de vida. há coisas assim lá, ó: “Para bem criar passarinhos é necessário ter o corpo capaz de escutar o silêncio das pedras, o som do vento nas folhas, o ruído de soluços preso em garganta”.
     as páginas duplas do livro são compostas, no lado esquerdo, pelo texto, e no lado direito, por figuras geométricas. pequenininhas, em grande quantidade. mas em cada conjunto de figuras geométricas há uma só com um detalhezinho de diferença para as demais. tive que tirar foto disso pra deixar mais claro, tamanha beleza! cada página dupla é de uma cor.
_________














________

     e os textos, ao lado esquerdo, começam sempre assim “Para bem criar passarinho”, e seguem com um dizer do que é preciso ter para criá-los, e do como fazer isso. ó um exemplo: “Para bem criar passarinho é essencial possuir um arco-íris, ilusão de água e sol, rabiscando no céu para passarinho pousar depois da chuva. E isso se faz possível colhendo nas nuvens as sete cores, ao entardecer”.
     o livro é de uma delicadeza só. apresenta ao leitor o contato com o nada, com aquilo que não tem um porquê de ser, com algo sem utilidade. lembrou-me muito os livros do maneca, o manoel de barros. quer ver só (pra quem já leu bastante o manoel, há de perceber o mesmo, creio): “Para bem criar passarinho há que se sonhar borboleta, anjo ou estrela cadente. É importante ter imensas intimidades com o nada, admirar o vazio e um especial encantamento pelo azul que existe muito depois das nuvens, infinito adentro”.
     para ler o bartolomeu não é preciso saber criar passarinho. é possível aprender, sim, a fazer isso, mas não é imprescindível que se saiba. é necesssário, sim, sentir a leveza do voo das palavras, buscá-las pelos arredores de cada esconderijo, explorar o que elas contém de mais singelo e secreto.

ítalo puccini

sábado, 29 de agosto de 2009

arrebentou

     tava namorando há um tempo o livro “rasif, mar que arrebenta”, do marcelino freire. via muitas vezes o livro disponível lá no sesc, mas não o pegava. pelo contrário, emprestava-o aos leitores que passam por lá. e, de tanto ouvir falar bem dele, ontem resolvi encará-lo. e foi das surpresas mais maravilhosas!
     é um livro muito bonito, esteticamente falando. edição da record, 2008, de capa dura, e com gravuras muito bem feitas por manu maltez (já é possível perceber pela gravura da capa). não é um livro de se ler só pelas histórias que apresenta. é um livro de se sentir, de tocar e tocar, e correr as mãos por todos os espaços dele.
     a explicação do nome do livro vem logo nas primeiras páginas, depois da ficha de catalogação. diz assim: “recife. s.m. um ou mais rochedos no mar, à flor da água, ou perto da costa. do árabe rasif, terreno pavimentado com lajes, estrada pavimentada com rochedos. pernambuco. s.m. do tupi-guarani paranã-puca, que significa ‘onde o mar se arrebenta’”.
     “rasif” é um livro de contos. com uma linguagem bem trabalhada, cuidadosa, transgressora. são de contos que escancaram a vida em sua forma mais pura e cruel. assim mesmo, contraditoriamente: purismo e crueldade. que é a vida. em “rasif”, as personagens de marcelino freire não querem saber de oferendas falsas a falsos deuses/mitos, não querem saber da paz, “essa coisa de rico, que é bonita na televisão, e só, que causa a dor, e que não deixa”. elas querem saber dos homens-bomba e seus amores impossíveis, querem saber do que há de bonito no afeganistão, em bagdá, em mesquitas e na “al-quaida”. querem saber dos revólveres em mãos de crianças, e ainda trazidos pelo papai noel. e, como não poderia deixar de ser, as personagens dos contos desse livro buscam o amor, acima de tudo o amor, “amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca”. o que não significa que o encontram. muito pelo contrário. afinal, o amor também mata. e pode vir mascarada em um buquê de flores.

ítalo puccini

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

sobre como ler e escrever em um ônibus em movimento

      título longo, mas fazer o quê, se aqui escrevo justamente sobre o que ali prenunciei.
      ia eu hoje para a univille, de ônibus, daqueles circular mesmo, pois havia passado o dia em joinville, na casa do pai. e ia eu lá no fundo do ônibus, sentadinho, com meu livro à mão, o "rilke shake", da angélica freitas, sobre o qual tem alguma coisa no post abaixo.
      e, como é possível perceber lendo o tal post abaixo, encantei-me com vários dos versos do livro da angélica. e me vi numa situação complicada. tinha a lapiseira à mão, junto com o livro, mas eita dificuldade que encontrei em sublinhar um ou outro verso, ou em destacar um trecho, ou em escrever algo no livro, registrar algum sentido.
      daí que me dei conta do quanto é difícil escrever com um ônibus em movimento. vixe!
     lembro-me de que outras vezes já tentei isto, e, claro, também sem sucesso. restou-me, então, segurar o dedo na página em que queria marcar algo e, a cada sinaleiro ou parada do ônibus, eu rápido fazia a sinalização que queria no livro, e podia continuar a leitura. contar com a memória para registrar depois é que eu não iria. ela, a memória, vive a me trair. daí que vivo a escrever, pois é o meio que encontro para não deixar passar muito do que vivo.
     fica aqui, então, um poeminha da angélica, que achei lindíssimo, e que muito combina comigo.
muito mesmo.
      diz assim, ó:
"Entro na livraria do bobo.
não tenho dinheiro
e tampouco tenho talento para o crime.
____
desfilam ante meus olhos
títulos maravilhosos
moribundos de tanto estar
nas prateleiras.
_______
roube-nos, dizem eles.
não agüentamos mais ficar aqui
na livraria do bobo.
______
quem acreditaria
nesta versão dos fatos?
ajudem-me, maragatos
nesta hora afanérrima
de uma libertadora paupérrima
de livros.
________
retumba meu coração. retumba
mais que a bateria do salgueiro.
treme o corpo por inteiro
e as mãos já suam em bicas.
________
ganho a rua, as mãos vazias
e os livros gritam: maricas".

ítalo puccini

terça-feira, 18 de agosto de 2009

a vida por meio de histórias

      "No último texto que escrevi neste espaço, fiz referência ao tema do 17° COLE – Congresso de Leitura do País –, a necessidade de “transver o mundo”, citada pelo poeta Manoel de Barros nos versos “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo”. E essa necessidade pressupõe uma tomada de consciência de que o ato de ler é, também e principalmente, saber ler a si mesmo e ao outro com o qual se estabelece uma relação de viver.
      Diante disso, a leitura literária é, sublinhe-se, uma modalidade de leitura existente, o que significa que há outras formas de leitura, formas estas que, não é arriscado afirmar, desfrutam de maior trânsito social, como, por exemplo, a leitura dinâmica de imagens, de jornais, e de revistas, as quais fazemos quase que diariamente.
      Como estudante de Letras e professor de Literatura, a leitura do texto literário faz parte do meu dia-a-dia, e o como trabalhar esse texto literário em sala de aula é um pensar que me acompanha da mesma forma diariamente. Sendo assim, como pesquisador que me tornei nesses anos de estudos acadêmicos, venho desenvolvendo pesquisas com o intuito de investigar possibilidades de o professor explorar o texto literário em sala de aula junto aos alunos.
     Fui, então, ao 17° COLE, em Campinas, apresentar os dados parciais da minha atual pesquisa, “A leitura literária no espaço escolar”, na qual proponho a realização de Círculos de Leitura com alunos do Ensino Médio, círculos estes nos quais trabalho com diferentes leituras de diferentes textos literários, contemporâneos e clássicos, justamente com o objetivo de, juntos, explorarmos a construção de sentidos junto a esse tipo de texto, no qual a imaginação ultrapassa fronteiras, contribuindo para a liberdade de interpretação e de respeito pelas diferenças.
     Aqui em Jaraguá do Sul, esta semana, iniciarei os Círculos de Leitura com alguns alunos do primeiro ano do Ensino Médio de um determinado colégio. E todo esse movimento acontece devido a duas crenças que tenho: a primeira, de que é na interação leitor-texto que a literatura merece ser discutida em sala de aula. Mais ainda, de que ensinar literatura significa mediar com o aluno o desenvolvimento da sua capacidade em transformar informação em conhecimento, envolvendo compreensão, interpretação e reconstrução do texto. E a segunda, a de que é a partir das histórias que lemos que podemos nos constituir como sujeito, que podemos transver essa realidade na qual vivemos.
      O historiador e crítico literário Alberto Manguel, certa vez lançou a indagação “se as histórias são capazes de mudar quem somos e o mundo em que vivemos”. Eu acredito que sim. E acredito porque senti – e continuo sentindo – o quanto as histórias que já li mudaram meu eu, mudaram minha forma de pensar, de sentir, e de agir no mundo. E é também pensando nisso que me arrisco em propor pesquisas e atividades de reflexão como a citada neste texto. E o próprio Manguel apresentou uma resposta à pergunta que fez, a qual encerra este escrito: “As histórias podem alimentar nossa mente, levando-nos talvez não ao conhecimento de quem somos, mas ao menos à consciência de que existimos – uma consciência essencial, que se desenvolve pelo confronto com a voz alheia”.

Ítalo Puccini

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

sobre cartas e livros

      são duas palavrinhas das quais gosto muito. na verdade, pelo que elas significam, e não propriamente pela palavra (estrutura) em si. nesse último caso gosto, por exemplo, de noite e de nuvem. mas isso não vem ao caso agora. o que vem mesmo são as cartas e os livros. os objetos. recebi, na sexta, carta e livro da lorreine beatrice. e, na segunda, carta e livros do enzo potel. na verdade, na verdade, antes que eles me corrijam, não foram bem cartas, naquele sentido original, em que, num papel, conta-se um pouco de alguma coisa. não. mas os livros vieram pelo correio, em envelopes daqueles mais tradicionais, sabe, simplinhos, bonitinhos, o que para mim já significam cartas. abri-os como sendo cartas. e lá constavam os livros.
_ _ _ _ _ _ _
      da lorreine ganhei o “hai-kais em setembro”, um projeto chamado “palavras azuis”, organizado pela terezinha manezak, e feito pela editora “nova letra”, de blumenau. hai-kais de doze autores (todos de blumenau, pressuponho, pois no livro não há dados sobre eles, algo do que senti falta), incluindo a lorreine, que já tem livros publicados, como “aprendiz”, “relicário” (amo esse título, e o livro também é lindo), e outros infantis. ela não fez dedicatória no livro, que é bem pequeninho. escreveu num papel, que veio junto, bem assim: “oi, ítalo! Segue seu livro de hai-kais, conforme prometido. Abraço, lorreine beatrice, jul. 2009”. e a lorreine é dona de palavras assim também para mim: “para ítalo, que acredita na força das palavras – em cartas, contos e poemas – e na leveza delas”, palavras estas que estão como dedicatória de seu livro “relicário”.
      com a lorreine tenho uma experiência de troca de cartas e livros muito legal. desde dois mil e um, acho, ou dois. bem no comecinho do século mesmo. à época trocávamos muitas cartas. sempre falando sobre leituras, escritas, e coisas da vida que acompanham adolescentes (temos idades próximas, um ano de diferença, acho).
     são hai-kais muito bonitos os do livro, que inspiram imagens lindíssimas, como esta, por exemplo, “em primeiras e rés / o beija-flor maneiroso / na conquista da flor”, escrito pela débora novaes de castro. e tem outros mais, tão singelos, bonitos e inspiradores quanto: “o rio leva o galho / passeando de carona / vai um passarinho”, do tchello d’barros. e tem um da lorreine também, que é assim: "Gaivota rendeira / tricota horizonte azul / pausa no entardecer”.
_ _ _ _ _ _ _
      o enzo, pelo contrário, eu não conheço pessoalmente. tenho contato com ele via e-mail e blog, através do rubens da cunha. mas me parece ser, o enzo, um sujeito super bacana, parafraseando o caetano (gostas, enzo?). um cara espirituoso pra caramba, com quem trocar e-mails é rir gostosamente da vida.
___________a forma como chegaram os dois livros do enzo foi peculiar, como me parece ser ele. tava eu aqui na minha, em casa, segunda à tarde, chovendo fraquinho, sabe, uma delícia para estar... na cama, claro. pois não para mim. tava eu na mesa da copa, sentado numa cadeira super comum, no beiral da janela, para pegar a claridade lá de fora e não acender a lâmpada (ítalo também é conscientização ambiental). ah, sim, e eu tava lendo meus teóricos, sublinhando horrores meu livro, e já encucando futuros textos sobre a pesquisa que tô fazendo.
aí, eis que alguém, lá fora, óbvio, me toca o interfone. digo, a bosta do interfone. reconheço sua utilidade, mas assusta pra diacho aquele treco. que horror! dei um pulo da cadeira e, não fosse a casa toda aberta, janelas e portas, nem atenderia, só de raiva. mas sorte a minha que a casa estava assim aberta, pois era a vizinha, super atenciosa, que viera me informar que algumas correspondências estavam molhadas lá na caixinha de correio.
agradeci à vizinha, e corri à caixinha de correio. de fato, duas correspondências um pouco molhadas. uma era carta de banco pra minha mãe (!), e outra eram os dois livros do enzo, em envelope um pouquinho maior. por que o carteiro não tocou o interfone, me deu outro susto, e me entregou o envelope com os livros em mãos, ao invés de deixá-lo mal colocado lá fora, não sei. sorte minha de ter vizinha atenciosa como essa. pois, então, peguei os dois livros, consegui secá-los rapidamente, e feliz fiquei com isso.
_ _ _ _ _ _ _
sobre os livros, em primeiro lugar, amei as duas dedicatórias feitas pelo enzo. no “afeganistão”, primeiro livro dele, de 2005, ele escreveu assim: “ítalo, o começo de tudo. com carinho, enzo”, e assinou. no “cura”, o segundo livro, de 2007, tá assim “ítalo! o fim do começo! enzo”, e outra assinatura.
_________o enzo escreve poemas. maravilhosos poemas! de uma força muito própria, e encantadora. “afeganistão” é divido em três capítulos: 1º “feliz na ignorância!”, onde me deparei com poemas como “amélia”, que diz assim: “A Amélia pensou em tudo: / no potinho de pimenta do reino, / sal, canela e açúcar, / nos lixinhos da cozinha, / do escritório e do quarto de visitas... / - uma árvore da fortuna aqui, / um lírio da paz ali, / e as xícaras em fila indiana - / ... no sítio que podiam comprar / com o dinheiro da aposentadoria dos dois. / A Amélia pensou em tudo, / só não pensou que ia embora”. um soco. a vida. e também encontrei ali algo lindo como este verso, a ocupar toda uma folha: “eu gosto quando minha mãe se arruma, porque ela se arruma por dentro”. pronto, não é preciso mais nada.
depois, no 2º capítulo, chamado “Sim, então ISSO é Deus?”, há versos assim: “Afeganistão / / Afeganistão significa ‘o resto das coisas’. / o lugar em que Deus concentrou / tudo o que não coube nos outros / lugares do mundo. / / Já meu nome traduz-se ‘vida sem propósito’. / Ser com alguns talentos inaproveitáveis, / metido, e que mata todos os próprios sonhos, / porque não tem coragem de se matar”. para mim, são os versos que significam este livro e este autor. há, também, algo daquilo que um dia se fora: “Cadeira / / Sinto-me um galho morto / na beira de uma floresta seca, / cheio de liquens, / nu e inútil. / Eu, que outrora sustentei ninhos...”.
e, por fim, no 3º capítulo, intitulado “Novas e Cândidas”, há uma realidade, nua e crua: “Ontem de madrugada dois mendigos / dormiam na calçada da Só Colchões”. “Banho-Maria / / Nada de deixar certas pessoas em banho-maria, / atrasa meu almoço, gasta meu gás / e ocupa uma boca do fogão. / O que é bom dá pra comer gelado”.
________“Cura” é um livro belíssimo. não me refiro somente aos versos. há um cuidado de imagens e um tipo de papel que o torna ainda mais gostoso de lê-lo. é, como diz no texto de apresentação do livro, escrito pela ryana gabech, o que não mima, não cuida, e não adocica. e, apenas, o que remove as amarras e couraças do mundo.
“Cura” é também dividido em três capítulos: “cenários místicos”, “a morte”, e “o reencontro”. tem um sumário impecavelmente bem trabalhado. e versos ardidos assim, ó: “O índio é lindo / da cor da nossa terra / joga o índio no chão / que a gente pisa nele”. e assim também: “Orgulho / / Não há troca. / É uma exposição mútua / de tendas túmulos / presas / sal pérolas / sonhos secos / princípios. / / Pronto. / Eu não te mudei. / Você não me mudou. / Negócio fechado”.
há, claro, a morte: “A sete palmos / / Todos nós temos certas dores / que brilham durante a vida. / Uma fiel dor de estômago. / Uma perna que sempre paralisa. / Um câncer. / São todos os sentimentos / que para nosso próprio bem / fingimos que esquecemos / achamos que perdoamos / mas que crescem silenciosamente / dentro de nós. / Até que um dia / nos matam”. e, novamente, o soco da vida: “Amigo é uma veste, / uma moda de espírito. / E o futuro da moda / é a nudez”.
e aí é preciso parar. ou continuar? fiquei sem saber. precisei respirar antes. e voltei para levar mais: “Entreguei minha Vida / nas mãos de Deus / e ele estava fazendo as unhas”.
pronto, estava nocauteado. pois levantei-me, e li tudo de novo.
_ _ _ _ _ _ _
aqui ficaram, então, alguns resquícios disso tudo. a quem se interessar, basta entrar em contato com os dois, e receber deles singelas e fortes cartas assim. aos poucos me recupero, claro. é necessário.

ítalo puccini

sábado, 4 de julho de 2009

Inventação não tem fim


“(...) porém a parte mais rica do que o Bugre me deixou era coisa diferente, riqueza que só se guarda por meio de repartir porque história a gente esquece se não contar a ninguém” (O voo da guará vermelha, p. 59).

      Já escrevi aqui, alguns posts abaixo, sobre os contos da escritora e contadora de “causos” Maria Valéria Rezende, a quem tive o prazer de ver e de ouvir, há duas semanas, no Abril Mundo, o evento organizado pelo Prolij. Naquela oportunidade, a autora viera para falar sobre literatura, sobre narrar, escrever e contar histórias. E também sobre seu romance O voo da guará vermelha (Objetiva, 2005).
Voltei ao livro durante esta semana, relendo alguns trechos destacados na primeira leitura que fiz. Trechos como este, por exemplo: Das fomes e vontades do corpo há muitos jeitos de se cuidar porque, desde sempre, quase todo viver é isso, mas agora, crescentemente, é uma fome de alma que aperreia Rosálio, lá dentro, fome de palavras, de sentimentos e de gentes, fome que é assim uma sozinhes inteira, um escuro no oco do peito, uma cegueira de olhos abertos e vendo tudo o que há para ver aqui (...). São as linhas que abrem o livro. São trechos lindamente ritmados. Frases que calam fundo: Quem tem saudade tem na vida uma riqueza.
      A história entre Rosálio e Irene trata de necessidades afetivas e de suas possíveis superações. Ele, um pedreiro, carregador de livros e de um desejo, o de aprender a ler os livros que carrega. Ela, uma prostituta presa a um amor que deixa saudade, dor e culpa. Meio que ao acaso eles se encontram. E se completam. Com Irene, Rosálio aprende a ler da forma mais bela e digna que é aprender: ensinando. E Irene, com Rosálio, vive finalmente o tão sonhado amor. Rosálio, ao buscar a palavra, busca a sua consciência e, ao encontrar as letras com as quais pode ler o seu nome, sai do estado de cinza/inconsciência para a luz que se descortina num arco-íris de cores da consciência. Homem e mulher que se fazem um na linguagem e no texto. No corpo e na cama, na vida e na morte. Unem-se na e pela linguagem para não se deixarem esquecer do que e de quem são: o amor é como menino que não sabe fazer contas nem de perda nem de ganho, vive desacautelado, não tem lei, não tem juízo, não se explica nem se entende, é charada e susto, mistério.
      A narrativa de O vôo da guará vermelha mistura elementos da cultura popular — especialmente da literatura de cordel e de oralidades — com textos clássicos tais como D. Quixote e As mil e uma noites. Os capítulos têm nomes de cores que remetem ao conteúdo da história (cinzento e encarnado; verde e negro; ocre e rosa). A descrição alterna passado e presente com encadeamento perfeito. Maria Valéria Rezende, de modo brilhante, apresenta um Brasil ainda desconhecido para muitos, visto somente pela televisão, onde, apesar das diversas agruras (analfabetismo, doenças e escravidão moderna) nascem histórias densas e humanas que nos fazem pensar a realidade de forma solidária, e que nos dão a esperança de possíveis e belos vôos de guarás vermelhas: (...) felicidade é coisa de muita delicadeza, que num sol forte demais murcha e perde a boniteza.
      A leitura de O Vôo da Guará Vermelha também provoca algumas reflexões sobre a vocação da literatura brasileira, que é, no limite, a responsabilidade solidária diante de uma multidão de deserdados. Ou seja, “dar voz aos oprimidos”. E isto a autora faz brilhantemente. Um exemplo está em quando Irene diz a Rosálio: Ai, Rosálio, se eu soubesse, há muitos anos atrás, que um homem assim existia, capaz de fazer com a fala um mundo maior que o meu, um mundo cheio de histórias de sorrir e de chorar, que me tirasse das sombras do medo de me acabar sem mesmo ter começado a viver vida que preste, que fizesse o amarelho, o azul, o verde, o rosado expulsar a cor de cinza desta alma que eu carrego como uma barra de chumbo.
     E, para não me alongar mais ainda neste escrito, ficam as últimas duas linhas e meias deste livro que merece muito mais do que duas leituras: (...), se a vida tem começo, eu penso que nunca finda e a história que já passou, deveras acontecida, a gente lembra inventando. Inventação não tem fim.

Ítalo Puccini

segunda-feira, 29 de junho de 2009

o leitor - a história


À parte as muitas e importante razões estéticas, acho que lemos romances porque nos dão a confortável sensação de viver em mundos nos quais a noção de verdade é indiscutível, enquanto o mundo real parece um lugar mais traiçoeiro (Umberto Eco, 1994, p. 97).

     Assisti, nesse domingo, ao filme O leitor, que rendeu o Oscar 2009 de melhor atriz à Kate Winslet, pela marcante atuação. Já havia lido o livro, há três meses, mais ou menos, e acabei não indo atrás do filme (muito pela minha preguiça em me colocar à frente de uma televisão). E eis que nesse final de semana ele “apareceu” lá em casa.
     Tomei coragem, então, após muito me enrolar para isso, e me deitei no sofá para assisti-lo. Tive que fazer isso de modo “quebrado”, é verdade, pois aguentar duas horas de filme é exigir muito de um ser sonolento como eu. Assisti durante pouco mais de meia hora num dia e ao restante no dia seguinte. E consegui chegar ao final!
     Achei-o brilhantemente lindo. Mesmo já conhecendo a história, sempre há aquela interrogação: será que haverá muito de diferente para o livro? E isto é bom, pois mantém a pessoa atenta ao filme. Não tenho bagagem cinéfila para fazer aqui colocações mais aprofundadas sobre o filme e todos os aspectos de produção que o cercam. Estas linhas são dizeres simplórios sobre uma obra que suscita algumas reflexões no mínimo interessantes. E não faço referência somente ao caso de amor entre um adolescente e uma mulher mais velha, nem à 2ª Guerra Mundial e ao Holocausto, a este assunto que é tema recorrente de recentes produções literárias e de cinema.
     O que mais me encanta na história de O leitor, tanto a descrita no livro por Bernhard Schlink, quanto a forma como foi filmada, é a força com que a literatura dá novo significado à vida da personagem Hanna, interpretada por Kate Winslet. Uma analfabeta que a todo custo, por vergonha, escondeu que não sabia ler nem escrever, chegando ao ponto de se prejudicar ainda mais no julgamento em que era acusada de deixar morrer trezentos judeus, e de abrir mão da aventura amorosa vivida com o ainda garoto Michael Berg. Garoto este que não entende o sumiço de Hanna, e que, mais para frente, já cursando a faculdade de Direito, depara-se com um julgamento em que uma das acusadas é Hanna. E é nesse momento que ele entende porque Hanna tanto lhe pedia para ler para ela. A rotina amorosa dos dois seguia este ritual: fazer amor, banhar-se juntos, e ele ler para ela. Até o momento em que Hanna some sem deixar vestígios nem explicações, o que só será compreendido mais à frente na história.
     E é na parte final desta história que Hanna aprende a ler e a escrever. Na prisão, a partir das fitas que o menino-já-homem-feito Michael Berg mandava a ela, com as histórias de alguns livros que lera para ela quando no romance de verão que eles tiveram. Histórias como “A Odisséia” e “A dama do cachorrinho”. Hanna vai à biblioteca da prisão e pega um dos livros gravados por Michael, e ali, ouvindo e acompanhando no livro, ela descobre as letras, as palavras, as frases, e os sentidos que pode construir junto a elas.
     O leitor é não só uma história de amor, ou mais um ponto de vista sobre o extermínio de judeus. É, também, mais uma possibilidade de sentir os alcances da literatura: o quanto ela pode ressignificar vidas e estabelecer elos duradores. É como afirmou Pennac: a virtude paradoxal da leitura é a de nos abstrair do mundo para nele encontrarmos algum sentido.

Ítalo Puccini

domingo, 28 de junho de 2009

"E o mundo é vasto", ainda bem que muito vasto.

     Ler os contos de Maria Valéria Rezende é mergulhar num universo narrativo precioso e encantador, que “envolve, desarma, e então nos golpeia com uma delicadeza fulminante”, como consta na contracapa de um dos seus livros de contos, Modos de apanhar pássaros à mão, o mais recente.
     Li os escritos desta autora durante esta semana. Iniciei com o romance O voo da guará vermelha, sobre o qual escreverei em outro momento, visto que merece muito uma segunda leitura, e então emendei seus dois livros de contos: o já citado no parágrafo anterior, e em seguida Vasto Mundo, seu primeiro livro de narrativas.
     Ler a narrativa de Maria Valéria Rezende é também se deparar com uma infinidade de personagens apaixonantes, sedutoramente singelos, que transbordam vidas e sentimentos. É acompanhar rotinas marcadas por amores brutos e sonhadores, por sonhos e perdas, pelo que há de fantástico e de real em viver; é passear no campo das emoções. Não há como sair ileso deste passeio, destas leituras.
     Suas narrativas são repletas de metáforas e de musicalidade, como neste trecho: “Era bom fazer um mundo melhor e aos poucos passou a viver como se o que inventava fosse a verdade, como se as notícias funestas é que fossem invenções de alguma alma maldosa que se apossara do correio. Já não se sentia mentindo, apenas interpretando a verdade que se escondia por detrás de palavras desencontradas”. E não só os títulos de seus livros são convidativos; os dos contos também: “Toda dor tem fim”; “Melodrama ou a dama da noiva”; “O tempo em que Dona Eulália Foi Feliz”; “Aurora dos Prazeres”; e “Olhares”.
     O leitor é convidado a conhecer espaços desconhecidos, porém acolhedores logo de entrada. Os lugares vão fazendo parte de nosso mundo, e nós leitores transformando aquele lugar e aqueles personagens, dando-lhes ainda mais vida do que já transbordam; não é possível definir quem invade o espaço de quem. Há uma cumplicidade na leitura das narrativas de Maria Valéria Rezende que deixam marcas pelo encantamento. Estou ainda sob efeito disto. E assim desejo permanecer.

Ítalo Puccini

segunda-feira, 1 de junho de 2009

nas tuas mãos, um corpo estranho





















     Há dois meses, mais ou menos, li dois livros da Adriana Lunardi, brasileira de quem eu não havia lido nada até então. Li "Vésperas", um livro de contos muitíssimo bem escritos, nos quais ela recria a morte de nove grandes autores da literatura mundial, e li também "Corpo estranho", sua estreia no romance.
     A escrita de Adriana me ficou martelando por um bom tempo. Uma escrita repleta de descrições, cuidadosa nos detalhes, que envolve o leitor durante sua leitura, propondo-lhe uma leitura cadenciada e atenta, muito diferente de outros livros e autores que eu havia lido ou estava lendo até aquele momento. E assim fiquei, apenas pensando nos dois livros e na escrita de Adriana. Até que me deparei com a portuguesa Inês Pedrosa, e com dois livros seus: "Fica comigo esta noite" (contos), e "Nas tuas mãos" (romance).
     Também, assim como com os livros da Adriana, li primeiro o de contos da Inês, e depois parti para o romance "Nas tuas mãos". E foi nesse momento de leitura deste romance que a lembrança do "Corpo estranho" voltou a me martelar. Senti, durante esta última leitura, muito do que eu havia sentido enquanto lia o romance da Adriana: a escrita cuidadosa, a leitura cadenciada, os detalhes físicos dos ambientes, e as emoções das personagens sendo expostas de maneira leve e dolorosa, porém libertadora.
Identifiquei-me demais com estas duas autoras e suas formas de escrita. Identifiquei-me muito com as personagens criadas por elas: Mariana, Manu, Paulo e José, em Corpo Estranho, com as estranhezas corpóreas de quem somos, as dores sucessivas das perdas que sofremos, a iminência da morte, a solidão, e o desapego. Jenny (mais Tó Zé e Pedro), Camila, e Natália, em "Nas tuas mãos", também com suas solidões, suas perdas amorosas, suas relações dolorosas, e seus escapes: o diário de Jenny, o álbum de fotografias de Camila, e as cartas de Natália.
     A dificuldade de se relacionar é elemento presente entre as personagens dos dois livros, que, em minha mente, misturam-se agora com muita frequência, e me levam a divagar uma possível relação entre elas, que lhes ajudasse a se descobrir mais. Ou não, ou melhor para estas personagens mesmo fora somente a convivência, e as marcas que ficam de cada um em cada corpo, em cada registro.
      Ao leitor, nas tuas mãos, uns corpos estranhos, inquietantes, e apaixonantes.

Ítalo Puccini

sábado, 21 de março de 2009

A trajetória de Puccini - lançamento


"A imagem acima é da capa e da contrapa do livro sobre o goleiro Vilmar Puccini, bicampeão catarinense pelo Caxias em 1954 e 55.
A obra está a caminho da impressão e já tem data para o lançamento: dia 30, às 19h30, na Sociedade Esportiva e Recreativa Tigre.
Vez por outra aparece uma iniciativa assim que resgata muitas histórias do futebol catarinense.
Que bom que chegou a vez de Joinville, ainda que num esforço familiar.
Aos 80 anos, Vilmar Puccini estará na festa.
Não vou aqui tentar advinhar pormenores do miolo do livro. Melhor será abri-lo, daqui a alguns dias e desfrutar das histórias e imagens levantadas por filho e neto do personagem: Vilmar Puccini Jr. e Ítalo Puccini pilotaram o projeto.
Mas consigo, aqui, para aguçar a curiosidade, abordar um pouco desta capa que acaba de ser aprovada e liberada para a gráfica.
A imagem é de uma das muitas defesas de Puccini. Fotos como essa, congelando o movimento do goleiro, serão 11 no livro (garante Puccini Jr., mentor do projeto).
Esta é da década de 1950, ainda no Urussanga F. C. (Urussanga, no Sul do Estado, é a terra de Puccini), e foi feita por Santos Felipe, o Santinho.
Uma espalmada e tanto.
Além de focar em Puccini, os autores prometem muitas passagens sobre a época em que o goleiro atuava.
Muitas histórias, muitas lembranças de como funcionava o futebol na metade do século passado.
Não vejo a hora de botar as mãos e os olhos nas 268 páginas e nas 155 ilustrações do livro.
Só no dia 30".

(texto do jornalista Edenilson Leandro, editor de Esportes do Jornal A Notícia, em seu blog)