domingo, 27 de janeiro de 2019

essa casa bethânia


são silêncios bethânia
e risos bethânia
dores bethânia

é prazer bethânia

são espaços bethânia
e águas bethânia
cores bethânia

é vento bethânia

ítalo puccini


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

e ainda era muito e muito pouco

      quero quero quero tanto tanto tanto fluem flutuam ressignificaram os nós entre nós tem que acabar o hoje e o amanhã pra sobrar só o ontem não usam sinais de pontuação pois não há o suficiente para que se expressem e eles não cansam de fazer isso porque o entendimento entre o dito e o não dito basta eles se bastam a partir do nós que existe e existem os dois o nome dela a boca faz bico o nome dele a boca abre engolem-se devagarinho e duradouro gostam do nós assim ela vê nele a inteligência por trás de cada ação ele passaria dois dias só naquela boca enquanto ela faria casa nas tatuagens dele ambos entretanto precisam existir um pouco às vezes ele quer paz ela caos equilibram-se ela aquário libra virgem e aries ele gêmeos leão aquário e gêmeos ela reconhece o potencial harmônico dele ele versa dela os erros e os problemas fica mais suave desse jeito ela guarda dele as palavras e pede manda pra mim um texto teu amo lê-los e amo mais ainda ouvi-los sabia ele se arrepia a cada vez em que ela fala isso arrepiar é gostoso a vida no ápice ele é ótimo ela é excelente é um acaso bonito ele ela a paixão às vezes o medo ele vai e volta como se fosse a primeira vez ela se recorda dos momentos em que sabia que existia ele e ele não sabia que existia ela ela quer tudo inclusive o coração quebrado o acaso é violento às vezes às vezes o acaso também é gostoso às vezes é pavio da coragem do desejo esse desejo é bordô é alimento dos silêncios que brotam enquanto existem ele e ela um com o outro gostam do silêncio respeitam o silêncio é bonito além de triste e gostosa a especulação é gostoso o jeito de pensar de um no outro é no silêncio que o nós existe quando eles pensam no nós sem esforço tudo ótimo fora a falta da mão dela no cabelo dele reflexo do nós que existe entre eles eles confiam eles esperam eles encontram beleza em lugares estranhos em segredos de liquidificador ela gosta de quando ele corta o cabelo ele gosta de todas as roupas que ela usa eles se imaginam sem roupa também dormindo juntos sexo em teoria ela nunca viu prefere a prática preferem é como se eles estivessem em tudo uma tentação eles se percebem inteiros pela solidão e pela palavra entretanto às vezes não é música colocaram amor marginal arranca pedaço é violenta é paixão é só sentir transformaram em poesia a falta completam-se colocam a teoria em prática florescem ideias lindas engolem-se pelas palavras não desse jeito mas sim as palavras que um dá ao outro guardam todas pois explicar sofrimento é complicado o melhor é guardar um tempo e deixar ir não existe amor pela metade porque o amor leva tempo paciência gafanhoto afinal quem é que sabe que existe nós 

ítalo puccini

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

são vírgulas

      as pernas, inclusive, têm vida própria, elas não sossegam, mesmo o corpo assim estando, parado, como exemplo, ao sentar-se para um lanche, uma refeição, alguma atividade de estudo ou trabalho, este corpo citado às vezes relaxa, mas elas, as pernas, as irrequietas pernas, balançam ao ritmo de algo que apenas a elas compete saber, parecem dançar ao som de alguma música, por ninguém mais ouvida, somente por elas, levando-as a se abrir e fechar-se, frenética  ou calmamente, entrecruzadas ou espaçadas, juntas-batendo-joelho-com-joelho, a um lado e ao outro, ritmadas, ou, enquanto uma descansa, a outra sacode para cima e para baixo, para cima e para baixo, descontroladamente, como se em poucos segundos fosse desgrudar-se do corpo e sair quicando, ainda ritmadamente, ainda ao som daquela música que lhes é própria, ou, também, há a perna que balança quando sobrecruzada à outra, típica posição culturalmente imposta às mulheres, porém tão comum aos homens, aos que são capazes de realmente cruzar uma perna sobre a outra e deixá-la a balançar, como se ali coubesse uma criança ou um cachorro ou um gato recém-nascidos, dependurados nesta perna que, da mesma forma, com igual ritmo, sobe e desce, sobe e desce, talvez assim descansando, talvez simbolizando a inquietação daquele a quem elas pertencem, ou são eles que a elas pertencem, não se sabe, mas elas não param, as pernas, enquanto parado está o corpo, há um movimento contínuo, independente, comum a todos os seres humanos, em alguns mais frenético, em outros menos perceptíveis, porém existentes, constantes, apesar das mudanças de posições e de ritmos, são gestos entre vírgulas, condutores de uma linearidade rítmica ao corpo no momento deste levantar-se, quase uma intervenção artística, uma espécie de empurrão justamente para este ato de levantar-se, algo inclusive com nome próprio, a síndrome das pernas inquietas, ou síndrome de ekbom, diagnosticada clinicamente, cujos sintomas envolvem alteração de sensibilidade e agitação motora involuntária, palavras bonitas, mas que não alcançam o significado preciso deste ato, ao contrário, podem até mesmo distorcê-lo, através da alegação de uma qualidade de vida comprometida ou da sensação de desconforto, outras expressões consideradas importantes, porém irrisórias, não há dores, não há formigamentos, não é predisposição genética ou ausência de dopamina e ferro em áreas motoras do cérebro que provocam este balançar das pernas, a ciência não alcança o que a arte faz acontecer com elas, as pernas, essa música própria, essas vírgulas, esse gesto espalhafatoso, deve ser realmente bom balançá-las,

ítalo puccini

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

catorze anos

      eu adoro quando ele diz vou lavar a louça eu me dirijo ao sofá da sala descalço os chinelos estendo minhas pernas entreabertas e começo a me masturbar sempre visto saia nesses momentos quando eu sei que ele vai dizer vou lavar a louça e eu sei que ele vai dizer vou lavar a louça porque no dia anterior enquanto ele trabalha no escritório escrevendo romances ou ensaios e lendo romances da editora da qual ele é dono eu sujo muitas peças de louça e as deixo propositalmente bagunçadas pelos vários cômodos da casa pois assim eu percebo o momento no qual ele começará a recolhê-las e a fazer aquilo que me atraiu nele quando há catorze anos ele durante as gravações de um filme cujo enredo tinha por base um romance de autoria dele e no qual eu era a atriz intérprete da personagem principal me disse vamos jantar lá em casa que depois logo se tornou aqui em casa ao que eu respondi sim vamos e depois de jantarmos um risoto de funghi preparado por ele enquanto conversávamos sobre os autores dos quais ele mais gosta e os cineastas com os quais eu mais me identifico e bebíamos um vinho branco ele recolheu os pratos os talheres os vasilhames onde servira o risoto de funghi encheu minha taça de mais vinho dessa vez um tinto e começou a lavar a louça eu o via o torso dele definido na camiseta que ele usava de cor cinza escuro camiseta que em noites futuras eu usaria constantemente depois de transarmos quando ele me convidava a acompanhá-lo até a cozinha de estilo americano me dizia venha farei algo para comermos e eu nem pedia a ele se poderia emprestar dele uma camiseta eu sabia onde ele as guardava as camisetas então eu o esperava sair do quarto me levantava da cama vestia minha calcinha que ele sempre tirava com a boca e já começava a me chupar com aquela boca bem grande dele com aquela língua que me comia como eu nunca fora comida por algum homem ou mulher e eu pegava aquela camiseta de cor cinza escuro e me dirigia à cozinha de estilo americano me sentava à bancada central ele me servia um copo com água gelada ele sempre soube que eu gosto de tomar água gelada depois de transar mas eu nunca disse a ele esse meu gosto e mesmo assim ele sempre soube e começava a preparar algo leve para comermos às vezes deixávamos estar e ficar o silêncio quebrado apenas pela minha voz cantando edith piaf la vie em rose ne me quitte pas non je ne regrette rien enquanto ele a nós preparava algo e me deixava cantar sem nada perguntar poderiam ser ovos mexidos com queijo e temperos poderiam ser torradas com geléias variadas olhar para ele me preenchia vê-lo de costas pra mim me excitava sabendo que de repente ele viraria rapidamente o rosto me dirigiria um sorriso bem largo boca bem aberta aquela boca dele bem grande tudo nele era grande e eu esperava pelo momento em que ele recolheria talheres copos pratos e os lavaria cumprindo uma função que eu não esperava homem algum cumprir e no início eu não me deitava no sofá para vê-lo lavando a louça eu continuava sentada à bancada levava meus dedos à minha boceta ainda encharcada pelo gozo dele começava a me masturbar ali mesmo de maneira suave e discreta sem ele saber e a mim não interessava gozar novamente eu sentia uma vibração incontrolável pelo corpo e só queria tocar minha boceta olhando para ele eu acho que ele sabe que eu me masturbo quando o vejo lavar a louça mas ele nunca me disse se sabe e eu nunca perguntarei a ele pois esse mistério é um dos motivos pelos quais eu não perdi essa vibração esse tesão nunca mais saiu de meu corpo já são catorze anos me masturbando enquanto ele lava a louça e ouve los hermanos música da qual eu não gosto mas não me importo de ouvir enquanto ele lava a louça porque ele dança ele canta ele é inteiro e esse respeito ao espaço de cada um esse silêncio permitido por nós dois a nós dois enquanto o outro existe é o que mantém o nós que construímos durante esse tempo que tornamos nosso e desde que eu me mudei para essa casa a convite dele quando depois de gozarmos ele me disse vem morar comigo e então eu sentei no colo dele sentei no pau dele ainda duro e começamos a foder de novo e no momento de gozar mais uma vez eu gritei meu corpo se contorceu e eu disse venho e essa vontade incontrolável de me masturbar enquanto ele lava a louça nunca mais saiu do meu corpo e há catorze anos eu adoro quando ele diz vou lavar a louça eu me dirijo ao sofá da sala descalço os chinelos estendo minhas pernas entreabertas e começo a me masturbar 

ítalo puccini