segunda-feira, 13 de abril de 2015

eu não gosto de ler texto teatral

     inclusive, eu teria um desgosto profundo se houvesse apenas texto teatral no mundo. ele me cansa, ele me confunde, ele não tem narrador. são diálogos, diálogos, diálogos. e algumas rubricas, com o objetivo de orientar o leitor, mas, primeiramente, aqueles que atuarão na peça. logo, ao ler um texto assim, meus olhos ficam procurando as referências características nesse gênero textual: quem está falando, a quem, com que tom, em que local, entre outras.
     mas eu gosto é de narrativas, de parágrafos longos, análise psicológica, narrador em primeira ou terceira pessoa, até mesmo com diálogos. estes me agradam, porém desde que não conduzam a história inteira. uma vez, por exemplo, eu experimentei ler um romance todo dialogado, foi o “nada me faltará”, do lourenço mutarelli, a quem assisti, em dois mil e dez, na feira do livro de jaraguá do sul. gostei da fala dele, das respostas que ele dirigiu às perguntas sobre sua escrita, suas leituras e afins. comprei o referido livro, li-o e dei-o de presente ao edu, por considerar ser mais a cara dele do que a minha, aquela obra. lembro-me de ter gostado da história, mas de ter me cansado durante sua leitura.
     ainda assim, aquele livro foi menos chato do que uma peça teatral. porque um romance dialogado não apresenta as marcações tradicionais de um texto do gênero dramático, afinal, este é feito para a encenação, aquele, para a leitura do leitor. e dessa vez eu vivi a experiência de ler uma peça do ariano suassuna, intitulada “o santo e a porca”. é da década de cinquenta, a peça, com características do teatro cômico, se é assim que se fala, e se mantém atual, em função do seu caráter crítico. li, gostei da história, porém me cansei bastante, devido aos detalhes já citados.
     e então fiquei encucado com esse desgosto profundo. tou perguntando-me até agora o porquê de tal aversão a um estilo de texto, entretanto, ainda não encontrei respostas, nem mesmo durante a escrita desta croniqueta. em últimos casos, eu falarei disso em terapia, se eu me lembrar, uma vez que entrar no consultório terapêutico significa desorientar o consciente, cedendo lugar ao inconsciente, portanto, não mais controlando a fala, de acordo com o desejo ou a ordem antes prenunciada.  
     ainda, sei dizer do meu gosto em assistir a peças teatrais, isso, sim. vou pouco ao teatro, é verdade, mais por preguiça em sair de casa do que por outro motivo, mas sinto prazer quando vou, assim como, interesso-me em ler sobre apresentações de companhias. contudo, este detalhe não me leva ao outro, o que talvez se apresente como contraditório, e, se assim for, que seja. sou da opinião de que o uso da palavra, por si só, é uma contradição à qual nascemos imbrincados, portanto, cabe-nos um olhar de análise a respeito disso que sentimos, justamente o que me leva a esta escrita, mesmo que, agora ao final dela, eu não consiga encontrar resposta à afirmação inicial.
    contradição, aliás, a me fazer lembrar de gregório de matos e do barroco. contradição, ou seja, dualidade, aquela marcante no período literário da nossa gênese literária: matéria versus espírito, tão recorrente na literatura do século xvii. contradição esta a essência da peça de suassuna. e, talvez por gostar dos poemas do boca do inferno, eu gostei da história de “o santo e a porca”, das personagens ali presentes, do absurdo de cada cena – um absurdo irônico e crítico, refinado – mas nada que me levasse a uma sensação de prazer durante a sua leitura.
     sobre isso, a josi – que, devido à sua desatenção constante, também não gosta de texto teatral – sugeriu que tal gênero textual fosse lido a dois, ou mais, cada um lendo em voz alta a fala do personagem correspondente, assim contribuindo para o entendimento do enredo. pode ser, eu disse a ela, mas sou chato, não me agrada algo que mais parece um ensaio para uma dramatização. logo, cá estou eu, no que diz respeito à leitura de textos dramáticos, novamente sem caminho alternativo, porém resignando-me a este desgosto, a partir de agora aprendendo melhor a lidar com ele.

ítalo puccini 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

memórias póstumas de aniversários infantis

            antissocial por natureza – ou por marcas da vida em mim – considero as festas de aniversário infantil excelentes momentos dos quais não participar. nesse sentido, vivi um 2014 de plena realização, no qual participei da comilança de um bolo no aniversário do vitinho – meu enteado – e só. por outro lado, março de 2015 já posso considerar o mês do saco cheio.
foram quatro festas infantis, uma em cada final de semana, nas quais tive a oportunidade de exercer a paciência nos seus níveis mais profundos, afinal, um cenário onde crianças estão correndo, gritando, pulando, jogando-se ao chão enquanto alguma música de voz muito aguda preenche um espaço também ocupado pelas conversas dos adultos – em volume elevado, devido ao contexto – causa graves problemas ao cérebro das pessoas, comprometendo funções básicas da convivência, como por exemplo respirar.
como eu tento lidar com isso?
comendo.
sem dúvidas, cada um desses quatro momentos contribuiu no meu propósito de não regredir meu peso para menos de 70 quilos. na verdade, foram ótimas oportunidades para eu abrir uma margem de erro. agora com 72 quilos, tou tranquilo, curtindo esse peso ideal que ainda faz de mim um sujeito magro, porém menos esquálido.
também, aproveitando-me do meu novo iphone rosa, eu percebi que posso aprimorar meus escritos durante esses eventos top, por exemplo escrevendo croniquetas assim, ou poemas despretensiosos – e desde quando um poema se pretende a algo? por isso que gosto de croniquetas assim, como se fossem poemas, cuja pretensão é nula, e a ironia, muita.
este texto, por exemplo, eu comecei a escrever durante uma festinha à qual levei o vitinho. parei o texto, naquele momento, no parágrafo anterior, e agora resolvi continuá-lo, passando-o do celular para o computador. naquele lugar, eu não conhecia ninguém – era um aniversário de um coleguinha de escola do vi – e as pessoas de lá não foram muito receptivas, ou seja, ofereceram-me um refrigerante e ocuparam-se com suas conversas-fechadas. eu, portanto, passei a acompanhar o jogo do jec pelo twitter e a escrever, enquanto o vi se divertia à beça. chegou o momento da comilança e eu me senti plenamente realizado. enrolei mais uma meia hora e fomos embora.
com sinceridade, eu fico feliz pelas pessoas e por seus aniversários, principalmente pelas crianças, ansiosas, devido às promessas de presente e de brincadeiras com os amigos, mas acredito que na intimidade ainda seja a melhor maneira de se comemorar uma data. justamente em função disso, também, eu nunca escrevo a ninguém, via redes sociais, felicitações, afinal, não há nada mais frio do que este gesto automático, repetidamente banalizado, cujo valor simbólico se descaracterizou. da mesma forma, não entendo festas de aniversário para as quais um mar de gente é convidada, ainda mais envolvendo desconhecidos, gente nunca antes vista, afinal, pergunto-me, qual a lógica de receber um desconhecido para um momento tão único, tão particular?
prefiro o tête-à-tête, a janta com a esposa ou o marido, o passeio com os filhos ou os pais. e, de ante mão, relembrando um pouco o último capítulo de memórias póstumas de brás cubas – o de negativas – agradeço os próximos convites, parabenizo-os se houver oportunidade, e espero não poder ir ao aniversário do seu filho, caro leitor.

ítalo puccini