i
há alguns anos
troquei os móveis do meu quarto de
lugar tirei uma foto e publiquei
no facebook
junto com um texto sobre
o significado daquela mudança
ao qual recebi algumas poucas
curtidas e
um comentário do
qual nunca me esqueci
que dizia
cara foram só móveis
com exclamação ao
final e
ali foi o momento de excluir
minha conta e me
desvincular da existência
virtual das redes
mas meu ego já era alimentado pelo
vício
ii
anos depois minha
arrogância me puniu e eu
paguei com uma demissão o
preço por insistir em
publicações virtuais quando
escrevi em formato de
tuíte um poema
cuja potência não
se perdeu por mais
que eu o
tenha desfigurado
ao publicá-lo em uma rede
de ódio
da qual eu participava diariamente
destilando pseudosabedoria
e alimentando meu
ego e meu
vício
iii
no instagram eu estive internado por
seis meses com
sérias crises
de ansiedade e sem
qualquer publicação que
mereça lembrança
inclusive eu
me esforço
diariamente para meu
ego se esquecer de
que um dia
sucumbimos àquele
vício
iv
se eu ainda tivesse
uma conta no twitter por exemplo
fake ou verdadeira
não interessa
somos sempre falsas representações
de nós mesmos
eu tuitaria
o pássaro lá de casa
canta anitta
quando pia
pa pa ra pa pa
e seria tão divertido
quanto uma publicação
virtual é
algumas curtidas
talvez uma ou outra
resposta
e na verdade tudo isso sem
nenhuma vontade
de interação
de quem leu nem
de quem escreveu
típico
de uma rede social
cuja finalidade
é despertar em nós uma
suposta atenção por
aquilo que não nos
interessa
e lá ficamos porque
o ego alimenta o
vício
se possível até adoecer
ítalo puccini