terça-feira, 1 de dezembro de 2009

palomar, do xará calvino

      durante a semana que passou, reli “palomar”, do italo calvino.
     um livro belíssimo, escrito com uma sutileza que convida o leitor a ler cada texto e, antes de seguir ao próximo, parar e pensar no que acabou de ler.
      “palomar” é isto, é um livro em que não se acelera. em que a leitura é ritmada, é cuidadosa como a escrita. em que um segundo de distração coloca em risco uma frase de rara beleza e ironia.
     palomar, este nome, “é o nome de um famoso observatório astronômico que durante muito tempo ostentou o maior telescópio do mundo. por intencional ironia, é também o nome do protagonista destes textos curtos de italo calvino, pois este senhor palomar é todo olhos, mas funciona quase sempre como se fosse um telescópio, mas para as coisas próximas do cotidiano”.
     é isto, bem isto. acompanhar o olhar de palomar, e principalmente as impressões e os dizeres e os pensares dos seus olhares é um exercício de aprender a olhar o que não se costuma olhar, e pensar no que não se costuma pensar, a não dizer o que se costuma dizer.
     fico impressionado com a organização dos textos deste livro. com o índice construído minuciosamente. o livro é dividido em três grandes partes: “As férias de Palomar” (1), “Palomar na cidade” (2), e “Os silêncios de Palomar” (3). são três “grandes temas”. e em cada uma dessas divisões há outras, ainda mais específicas: nas “férias de Palomar” há “Palomar na praia” (1.1), “Palomar no jardim” (1.2), e “Palomar contempla o céu” (1.3). na cidade, “Palomar no terraço” (2.1), “Palomar vai às compras” (2.2), e “Palomar contempla o céu” (2.3). e os silêncios de palomar têm “As viagens de Palomar” (3.1), “Palomar em sociedade” (3.2), e “As meditações de Palomar” (3.3). e cada um desses número quebrados contém três textos. ou seja, são 27 textos sobre o sr. palomar e seus olhares e impressões sobre o mundo.
     é encantadora a riqueza de detalhes nas descrições do que vê palomar: a contemplação dos movimentos de uma onda, os amor entre duas tartarugas ou a corrida das girafas.
     o sr. palomar gosta é do silêncio. gosta do ato de observar, de conjectuar, de pensar, mas não de dizer: “O senhor Palomar espera sempre que o silêncio contenha algo além daquilo que a linguagem pode expressar. Mas e se a linguagem fosse na verdade o ponto de chegada a que tende tudo o que existe? Ou se tudo o que existe fosse linguagem, já desde o princípio dos tempos? Neste ponto o senhor Palomar é tomado pela angústia”.
     de pensar coisas assim, principalmente: “’Não podemos conhecer nada exterior a nós se sairmos de nós mesmos’, pensa agora, ‘o universo é o espelho em que podemos contemplar só o que tivermos aprendido a conhecer em nós’”.
     pois o sr. palomar pensa, não diz nada, apenas observa, e leva o leitor a um pensar sem medidas, a um pensar muito provavelmente não pensado, a um estado de consciência ainda não atingido. a um silêncio ainda não experimentado.

ítalo puccini