segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Costumamos achar que o mundo nasce com a gente


Escrevo muito, escrevo para deixar escrito.


            Título e epígrafe do livro “Pena de Ganso”, da Nilma Lacerda – com ilustrações do Rui de Oliveira. Livro que eu reli na última semana. Reli porque tô numas de mais reler do que ler. Porque a gente muda tanto que os livros mudam também, e daí que reencontrá-los é muito bom.
            A história de Aurora encanta. Uma menina que deseja aprender a ler e a escrever, em uma época em que não, meninas não tinham esse direito. O que fazer para ajudar Aurora? Será que ao lermos a sua história acabamos por dar a ela vida e possibilidade de realizar o desejo maior que tinha?
            Como leitores, sabemos que “este não é o melhor dos mundos, mas é o que podemos oferecer a ela”. A escrita não acontece sem tintas e o texto não existe sem um leitor. Uma história também não. Um personagem muito menos. Escrever pode ser solidão. A leitura, na maioria das vezes, também. Mas quando se lê e se escreve, quando se está em contato com algum personagem, jamais se está sozinho.
            “Um mundo em que escrever é um processo muito sofisticado, muito difícil. Ter acesso a isso, em certas circunstâncias, é tão ou mais difícil que o próprio aprendizado”.
            Brotar um texto é fazer nascer um mundo. Presunção? Eu diria que necessária. A vida nunca mais é a mesma depois que se conhece um personagem. Um dia na vida é muito. Uma vida não é brincadeira. Afinal, “o que é que acontece entre a tinta, o dedo da gente e um traço? O dedo da gente pode escolher um caminho, ir andando por ele e deixar registrada a marca dessa passagem”.
            E que venha o leitor para desmarcar tudo, desmontar. Dar novos significados. Fazer doer e arder para curar.

Ítalo Puccini