(Quando Rosane me empresta um livro é porque a coisa “vai bater”, expressão que utilizo para fazer referência a um encantamento que há entre mim e o livro. Foi assim com “Uma história da leitura”, do Alberto Manguel, livro que se tornou meu guru nos recentes anos de graduação e de produção acadêmica, e foi assim com “As intermitências da morte”, livro que me levou a conhecer a escrita do José Saramago, por quem meu encantamento só aumentou a cada livro dele que li).
“Como Proust pode mudar sua vida” me assustou tão logo o peguei em mãos. Um susto que vem do meu preconceito com livros de autoajuda. Porém, senti que apenas o título soava estranho, que o conteúdo não tenderia a isto. E não tende mesmo, apesar dos apelos comerciais por ele apresentados, observação atenta do Enzo, que leu o livro após um e-mail que enviei a ele, com dois trechos do mesmo. (É de papo em papo, de trecho em trecho, que a leitura vai se disseminando porraí).
São nove capítulos nos quais o autor propõe reflexões sobre a vida: relações sociais, amor, sofrimento, leitura - todos a partir da leitura de “Em busca do tempo perdido”, obra-prima de Proust.
Fiz a leitura dos capítulos de modo bem aleatório. Comecei pelo último, depois fui para o segundo, os dois que mais me interessavam: “Como abandonar os livros” e “Como ler para si mesmo”, uma vez que pensar a leitura e suas possibilidades de práticas e estudos me é algo recorrente.
Assim, deixei por último o capítulo três, “Como sofrer com sucesso”, e muito nele me incomodou. Proust tinha um modo de viver que tendia ao sofrer, às dores físicas e emocionais. Havia nele a crença de que a felicidade nos torna ignorantes e de que é o sofrer que nos leva ao pensar, ao refletir sobre a vida, logo, a uma sensação de maior controle sobre si mesmo: "De fato, na visão de Proust, só aprendemos realmente alguma coisa quando há um problema, quando sofremos, quando algo não sai como o esperado".
Não me identifico com este pensar. Há drama em excesso, assim vejo. Tá certo que aprendemos com a dor, com o sofrimento. Que isso muito nos engrandece. Mas daí a cultuar um estado de espírito assim? Isto não me cabe. Da mesma forma que não compactuo com a ideia de que é o sofrer que leva à escrita. É mais um exemplo de dramalhão típico de quem não saiu da infância e quer chamar a atenção com sua própria dor - ou cara de. Parece-me mais falta de equilíbrio esta romantização da vida e da escrita. Prefiro um olhar para o viver que entenda cada ação ao seu redor como uma parte de um aprendizado contínuo, para o qual é necessário algum equilíbrio, um meio que não penda demais nem para uma euforia excessiva, nem para tal romantização do sofrer.
Proust pode até ter escrito um livro marcante para a literatura mundial - que eu não li e não sei se um dia lerei - mas não me cativa enquanto pessoa. Pelo menos do pouco que conheci atráves do Botton. Quem sabe em outras vidas, né, Proust?
Ítalo Puccini
Não me identifico com este pensar. Há drama em excesso, assim vejo. Tá certo que aprendemos com a dor, com o sofrimento. Que isso muito nos engrandece. Mas daí a cultuar um estado de espírito assim? Isto não me cabe. Da mesma forma que não compactuo com a ideia de que é o sofrer que leva à escrita. É mais um exemplo de dramalhão típico de quem não saiu da infância e quer chamar a atenção com sua própria dor - ou cara de. Parece-me mais falta de equilíbrio esta romantização da vida e da escrita. Prefiro um olhar para o viver que entenda cada ação ao seu redor como uma parte de um aprendizado contínuo, para o qual é necessário algum equilíbrio, um meio que não penda demais nem para uma euforia excessiva, nem para tal romantização do sofrer.
Proust pode até ter escrito um livro marcante para a literatura mundial - que eu não li e não sei se um dia lerei - mas não me cativa enquanto pessoa. Pelo menos do pouco que conheci atráves do Botton. Quem sabe em outras vidas, né, Proust?
Ítalo Puccini