terça-feira, 31 de maio de 2022

sempre há o que se guardar no melhor canto do coração


e é tão estranho como nos damos bem tiago. como tua presença me alegra. a pureza do momento que chegou para ficar e dar o que é devido a quem nunca se entregou. a gente sempre foi aquele instante de modo que eu exijo mais pra lembrar do que eu não fiz por te respeitar demais. apostaram alto contra nós e eu paguei o preço e te espero aqui e esqueço em breve o dissabor. avante com os novos planos pois é muito cedo pra se despedir e você não vai me encontrar onde todos esperam muito menos longe de mim escondendo o que eu também construí. 

como uma viajante que chegasse sem partir eu não quero que ninguém me leve pela mão nessa estrada na contramão e passo a achar estranho tudo o que eu mesma fiz e me desfaço de tudo o que decai. é que é lento meu passo e estou sempre atrasada contra essa distância que se impõe. tanto que as dez mil horas que me faltam pra eu me tornar quem eu quiser também foram postas pra vender sem eu nem saber. 

uma quimera gratuita de um destino pouco afeito a me agradar.

eu fui te buscar na lembrança mas você já não estava lá tiago. na fria escuridão desse porão vazio sua respiração não me alcança tampouco assume o peso que tem. e se essa noite dura mais do que deveria enquanto o sono não chega eu morro como se perdesse um tempo precioso e esbarro em sonhos que às vezes nem são meus. na fenda que me trouxe a escorregar pela imensidão eu me sinto mais só do que quando eu nasci mas mesmo assim quero saber onde vai dar sem ter que te pedir perdão logo depois. e sem parecer infantil é como se eu tivesse um mar de histórias pra contar do que restou de mim rindo das desgraças do dia no parque de diversões das perdas diárias nas quantas vezes em que já me descuidei sem prejuízo algum. quando as belezas que o mundo me mandava ficaram entupindo a caixa de correio do prédio onde não moro. 

não é tão triste quanto é óbvio.

e tudo o que te digo é só pra esconder o que eu pensei em te falar sobre coisas impossíveis que imagino e não entendo o que imagino. eu te oferto o meu dizer que é tanto e tão pouco e não repare no desastre que a vida se tornou afinal a disciplina faz manter a calma em um gole de cada vez desse fernet que de amargo lembra um pouco o que é viver. então pra que sair assim todo de mim só porque eu vejo prazer no que você tatuou com fogo pra lembrar que o tempo é mais completo no teu corpo. a alegria que isso me traz é sobre o dever de sofrermos juntos e todo esse empenho em ser sincera é porque algo entre nós não ia bem. e eu toco o embalo dessa nostalgia que só pra ti vai fazer sentido ouvir. 

mas que sentido tudo isso faz se na primeira vez demora a se acostumar com o vazio. 

quando eu olho pra você tiago a vontade é a chave pra te abrir. seria um grande prazer enlouquecer contigo. você que é vasto o bastante cuja falta inventa um novo dia da semana e se contradiz sem se importar. não me pergunte mais o que também já se respondeu sobre as canções que extraem tua dor. teu riso é breve pequeno e discreto teu rosto não mais que intenção. tua inocência dizendo com todas as letras como se faz e se existe algum segredo eu nem penso em desvendar e perder tua atenção. agora é uma lei e eu não vou querer ser pega se a tua sorte é o meu azar.

eu lido agora só com o que é mais urgente. 

enquanto o sol aquece tudo lá fora eu me despeço desse frio e imagino precisos nuances de vida. algum tipo de adeus pra quem quer partir você encontra em mim tiago porque é bom dizer adeus estando em boa companhia. as auroras que um dia hão de brilhar em mesas redondas de salas distantes sob o olhar complacente de deus e sobre o prazer de vivermos juntos. parece tão fugaz esse meu prazer rindo das promessas do dia como queria que fosse a estação inteira ao fim da qual restaria palavra. um atalho. o fim do mistério que me leva até você sobre as ruínas dos muros de toda elevação. porque não há nada que não se cure com cinismo e boa fé. 

e de fé nós entendemos bem.


ítalo puccini