quarta-feira, 17 de julho de 2013

o que é a solidão?

mais uma croniqueta que brota a partir de uma daquelas perguntas-sacanas. e justamente por serem perguntas assim queridas é que as envio aos amigos mais próximos, por acreditar neles, que eles tenham a contribuir com a reflexão proposta.
e tal indagação veio a mim porque tenho reparado que procuro preencher minha solidão com a leitura e a escrita. e que recorro a essas duas práticas pelo fato de elas me possibilitarem uma conversa, uma interação – não necessariamente com outra pessoa, no sentido de ler um escrito de um conhecido ou até mesmo de escrever para alguém próximo. é no sentido de dialogar, ainda que não no mesmo instante, com outra voz, que em algum momento parou para escrever aquilo que eu vim a ler, ou que em algum momento parará para ler o que tou a escrever. (eu, pelo menos, escrevo para ser lido. assumo e defendo este movimento de ir e vir que torna a leitura o que ela é).
o que me ocorreu enquanto elaborava este parágrafo anterior foi que se eu busco a leitura e a escrita para me acompanharem durante minha solidão (porque solidão é período, sempre necessário. mais adiante retomo essa ideia) eu acabo por não me deixar acompanhar apenas por ela, a solidão. parece-me mais uma fuga, já que não tou permitindo-me a ficar de fato sozinho.
estar só não seria não estar interagindo com nada a não ser comigo mesmo?  
essa palavrinha dá caldo, como diz a eliana, minha terapeuta. segundo ela, solidão é um sentimento, e, sendo assim, é subjetivo. “É provável que nossas respostas encontrem eco uma n’outra, algo como um vazio, uma sensação de não pertencimento, de não estar, de desamparo, sensação essa, na maioria das pessoas, localizada no peito”. ela e enzo me fazem pensar naquela solidão sentida mesmo em meio a algum grupo. e edu lembra que não vivemos num deserto, e que, portanto, “temos história, memória afetiva, ligações, compromissos, cultura”, algo similar ao proposto pelo filósofo mário sérgio cortella. como isso é possível? talvez seja o que o david foster escreveu em “infinite jest”: “que solidão não é função de se estar só”. é o não pertencimento.
enzo ainda fala sobre o “estar nada”, defendido por osho, o qual representa aquela solidão que nos leva “pra longe do ego, daquela solidão que precisa de algo, que precisa ser alguém, estar com alguém”. porém, às vezes este “nada” pode ser destrutivo, no sentido de trazer-nos ‘noias’, então que aquilo que vier a preencher tal estado já é salutar: “o nada positivo seria, por exemplo, aquele bem-estar de não sair da cama, amando o dia, a temperatura do ar, a postura que seu corpo alcançou sobre a cama, a paz interior. tomar banho e se perder no tempo. isso é um estado de graça. e, como todo estado de graça, não dura muito tempo. está fadado a falecer, não há como trazê-lo de volta quando você quer”.
enfim. solidão é dinheiro na mão, diz a rafa, cantando paulinho da viola. e a solidão talvez seja um sentimento (é mesmo um sentir?) necessário para alguns momentos da vida porque não considero possível sentir-se só o tempo todo, muito menos nunca sentir-se assim. entretanto, o contrário é o que mais acontece, a fuga desses momentos – que então acabam por serem poucos – nos quais nos sentimos solitários. por que fugimos? talvez pelo fato de a solidão amedrontar. é o que me parece. é poeira tomando assento, como canta o djavan em “açaí”, uma porrada de imagem. e é silêncio, conforme proposto pelo fox, mais uma vez fechando uma croniqueta: “eu continuo com a opinião de que quem melhor pode te responder essa pergunta é uma parede. tudo o que ela não vai te dizer, pois não pode, é exatamente o que você tem que escutar sobre a solidão. o vazio”.
      eis a sensação que não nos abandona.

ítalo puccini