sábado, 29 de janeiro de 2011

Em terreno desconhecido,

   porque escrever é dar a cara a tapa.




   É por aí que podemos pensar o primeiro livro infantojuvenil do escritor Rubens da Cunha, poeta e cronista, autor de trabalhos muito sólidos e reconhecidos como os livros “Campo Avesso”(2001, Letra d’Água), “Casa de Paragens” (2006, Editora da UFSC), “Vertebrais” (2008) e “Aço e nada” (2007, Design Editora) (os três primeiros de poemas, o último de crônicas). 
  Quando no lançamento do seu novo livro, no final do ano passado, Rubens em nenhum momento negou que passava, a partir daquele momento, a pisar em terreno antes pouco conhecido para ele. A última página do livro deixa claro isto também: “Crônica de gatos é seu primeiro texto destinado ao público infantojuvenil”. E este novo livro do escritor joinvilense pode ser visto como um passo que não estica muito a perna, um passo que mantém os dois pés bastante próximos. Não é um salto. É uma tentativa de dar um passo seguinte mais para frente, com uma segurança necessária para que nenhum tropeço ocorra nesse processo de continuidade. Algo que me parece claro já no nome do livro, “Crônica de Gatos”, uma referência a um gênero com o qual Rubens lida há bons cinco ou seis anos semanalmente no jornal “A Notícia”, de Joinville, que circula por todo o Estado de Santa Catarina, e também uma referência a um animal pelo qual o autor assume predileção, e que também já foi tema de algumas crônicas e de alguns poemas seus.
   Outra evidência do passo curto acertadamente dado por Rubens neste novo trabalho está em um dos elementos que compõem a história contada em “Crônica de Gatos”: o livro. Elemento este de muita segurança para o autor, não só pelo fato de já ter sentido a experiência de publicar quatro livros, como pela relação que ele demonstra estabelecer como os livros enquanto um leitor, algo que pode ser sentido a partir de seus escritos e das referências leitoras presentes em sua obra até o momento.
   Há pouco tempo, em uma entrevista que fiz com Rubens, para meu blog, ele apresentou um pouco mais do leitor que é: “Um sujeito curioso e que se irrita quando o interrompem durante a leitura. Eu gosto de ler tudo, é quase um ato involuntário. Está escrito, eu estou lendo. Mas a preferência, claro, vai para os livros de literatura, sobretudo, poesia e prosa que tenham algum elemento de ruptura com a linguagem, algo que vá além da história, pura e simples”.
   E são os livros que ligam os três personagens deste livro, o narrador e dois gatos. E é por meio dos livros que Rubens alcança uma segurança necessária para se soltar nesse terreno pouco conhecido dele.
   Como em todo terreno que se apresenta novo, por mais cuidado que se tenha, é preciso estar ciente dos sustos que o desconhecido apresentará. E é possível se deparar com alguns sustos no texto do “Crônica de Gatos”. Alguma precipitação na narrativa da história, uma entrega além do que devia, uma palavra fora de lugar que faz brecar a interação do leitor com a história, como para mim aconteceu no momento em que li a palavra “morte”, no meio da narrativa. O próprio trabalho de texto com imagens permite ao escritor não entregar tanto da história ao leitor, deixando este solto o necessário para construir sua significação leitora aliando narrativa e imagens.
  E a partir disso também se faz necessário salientar as excelentes ilustrações do livro, assinadas por Regina Marcis. Um trabalho de colagens que dá ainda mais força ao texto já muito consistente de Rubens da Cunha. Um texto de frases curtas que se complementam pelas brechas que cabem ao leitor significar, tendo o leitor, neste caso, as imagens como elementos adicionais de leitura.
  Rubens acerta em não esticar muito o passo neste novo trabalho. Acerta em mostrar ter ciência de que um escritor constrói sua trajetória não somente por meio dos livros que lê, mas também a partir de um olhar consciente sobre sua própria produção, medindo com cuidado os passos a serem dados, os caminhos a serem desbravados, e os mantimentos necessários para que desses passos e desses caminhos nasçam frutos tão sólidos quanto os já construídos e entregues ao mundo-leitor.

Ítalo Puccini
_ _ _ _ _ 
resenha publicada no caderno ideias do jornal anotícia, 30.01, página 3. 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

escolha


seu critério era o clitóris.

ítalo puccini

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

eram olhos verdes

eram aqueles olhos verdes que me desnorteavam que me deixavam bamba bambinha toda vez que ele me olhava assim de perto bem de pertinho para falar algo que queria tornar meu também não só dele mas nosso e com aqueles olhos verdes naquela pele morena de quem pegou bastante sol é que ele me olhava bem fundo e me dizia que tinha dado pro kleber de novo que fora só uma recaída que ele não queria mais ficar com o kleber e que o kleber não parava de citar o meu nome enquanto comia ele e que o kleber chorou depois de gozar porque era o meu cu que o kleber dizia querer e não o dele e ele me falava isso numa boa sem dor nem nada mas feliz com aqueles olhos verdes que me faziam gozar sozinha que deixavam minha calcinha toda molhada mas ele não sabia disso ele não sabia que tudo o que eu mais queria era ser comida por ele e não adiantava eu sussurrar no ouvido dele que eu queria que ele me beijasse que ele beijasse minha calcinha que ele beijasse minha buceta e que eu queria ser comida por ele não pelo kleber não pelo meu namorado mas por ele pelos olhos dele por aqueles olhos verdes que me desnorteavam que me deixavam bamba bambinha

ítalo puccini

eram tamancos

eram brancas as meias dela que eu não podia ver mas ela fazia questão de sempre me dizer a roupa que vestia e dizia tudo tudo mesmo como por exemplo naquele dia em que além das meias brancas eu sabia que ela usava uma calcinha vermelha com duas palavras que ela sussurrou no meu ouvido kiss me e além da meia branca e da calcinha vermelha escrita kiss me eu sabia que ela usava um tamanco que eu também não podia ver mas ela nem precisaria ter dito que o usava porque quando ela foi chegando assim mais perto e mais perto eu já sabia que era ela mesmo que eu nunca a tivesse visto ou ouvido usando tamanco nem meias brancas mas aquela calcinha já ela já tinha dito uma vez pra mim que a estava usando mas eu gamei foi no tamanco dela nossa aquele tamanco eu acho que a deixava mais alta com certeza a deixava mais alta e mesmo que eu não pudesse vê-la eu sabia que ela ficava gostosa assim mais alta de tamanco e de meias brancas aquelas meias brancas que eu não podia ver mas que ela descrevia tão bem e que me faziam imaginá-la nua nuinha só para mim de pé assim na minha frente de tamanco bem alta sussurrando minha calcinha é vermelha e tem duas palavras kiss me

ítalo puccini