domingo, 10 de junho de 2012

tive gêmeos




acho que todos os textos já estiveram cá no blog. significam uma fase minha, de vivência e de escrita - tal qual tudo o que se é escrito e publicado porraí. minha felicidade está em fazer sessenta exemplares, trinta de cada volume. e de dá-los às pessoas. vai rápido, não importa. e não darei dois pra uma só pessoa. quem o receber, receberá somente um. e, se quiser ler o outro, emprestará com alguém. é rapidinha. é fazer o livro circular. livro de estante já tem um monte nesse mundo. 


o meu muito obrigado ao enzo, pelo incentivo e pela ousadia da editora cartoneira.

ítalo puccini

sábado, 9 de junho de 2012

leitura em família. matéria de jornal.

saiu no jornal anotícia - jaraguá do sul/sc, na edição de sexta-feira, 08/06, matéria sobre o exemplo de leitura do meu pai pra mim e de mim pro meu irmão mais novo.



Exemplo do pai para o filho

Além de dividir gosto por leitura, Vilmar e Ítalo escreveram obra biográfica juntos

Uma confirmação de que o hábito da leitura pode ser transmitido de pai para filho está na família Puccini. Apaixonado por livros, Vilmar Puccini Júnior, 55 anos, passou o exemplo ao filho, Ítalo Puccini, 25. Ele via o pai folhear jornais e revistas, sobretudo quando o assunto era esporte. Dos artigos esportivos para os romances foi um pulo e, hoje, Ítalo é professor de literatura e cronista, o que lhe valeu a participação no bate-papo da Feira do Livro de Jaraguá do Sul na última sexta-feira. Tudo convergiu para que Vilmar e Ítalo trabalhassem juntos no livro lançado em 2009 que narra a história do pai e avô Vilmar Puccini, ex-goleiro do time joinvilense Caxias. “A Trajetória de Puccini” hoje está disponível apenas por encomenda.

Por causa da profissão, Ítalo chega a ler dois livros por semana e possui um acervo de quase mil exemplares. O pai também sempre tem um na cabeceira e seu gênero preferido é a biografia. Eles confirmam que a bagagem literária foi essencial na hora de se aventurarem na escrita. “Dediquei quatro anos em pesquisas para que o livro pudesse ser escrito. Mas o processo começou muito antes. Todos os livros que já lemos nos ajudaram de alguma forma”, afirma Vilmar.

Além do gosto por leitura, um herdou do outro manias parecidas. Folhear um jornal, por exemplo, só de trás para frente. “Tomei gosto pela leitura vendo o meu pai ler o jornal de trás para frente. Isso a gente faz até hoje. Comecei a ler os jornais, depois a revista “Placar”, procurei livros sobre futebol e, dali para frente, romances. Foi pelo exemplo de casa que comecei a ler”, descreve Ítalo.

Agora, ele trata de repassar o exemplo do pai ao irmão por parte de mãe, Luigi, de nove anos. O menino começou a ler há dois anos e é sempre incentivado. “Desde que ele tem três anos leio com ele. Agora, está começando a ler sozinho mas, ainda sim, procuro sempre ler junto, para que tenha o gosto pela leitura sem ser de forma forçada”, relata Ítalo.

Sobre as novas tecnologias, como os tablets, as opiniões se dividem. Vilmar acredita que nada se compara a folhear um livro. “Para mim, o livro de papel não vai acabar nunca. Tocar no papel e apreciar uma boa leitura não tem preço”, defende. Ítalo é mais aberto à novidade. “No meu caso, que preciso estar sempre com a bolsa cheia de livros, é interessante, o tablet vem para facilitar. Posso carregar mais obras comigo. Claro que tenho uma paixão pelo objeto, mas a tecnologia chega para complementar”, contrapõe.
SAIBA MAIS:
Publicado em edição limitada, “A Trajetória de Puccini” está hoje disponível apenas por encomenda. Quem tiver interesse, pode contatar o autor Ítalo Puccini pelo email italopuccini@yahoo.com.br

Pelo Caxias, Vilmar Puccini foi bicampeão catarinense nos anos 1950. Foi ainda presidente, técnico e goleiro do time da empresa Tigre. Fez 84 anos em maio e mora em Jaraguá com o filho.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

A função do leitor. Ou: fazendo bater


            Às vezes eu inicio uma aula lendo. Algo bem aleatório mesmo. Acho super válido. (Tornar a leitura um hábito, algo mecânico e repetitivo, não considero interessante). Gosto da leitura pela leitura. Sem cobranças posteriores. Quem pegar, pegou. Quem não pegar, numa próxima pode ser. Ou não. Toda leitura é questão de tempo.
Fazendo bater. Acho que é isso que acontece quando eu levo um livro para os meus alunos. Para ler com os meus alunos. Acho que rola dentro de mim, quase no inconsciente, um querer que eles se batam. Os livros e os alunos. Que eles colidam, entrem em choque mesmo. Em todos os sentidos. Porque a leitura precisa marcar. Porque a vida precisa ser marcada pelas leituras. Senão não é leitura. Senão não pode ser vida.
Dias desses, li isto daqui:

" A função do leitor

Quando Lucia Peláez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, ocultando o livro debaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas caminhou pelos rochedos sobre o rio Antióquia, e na busca de gente caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lucia, e ao longo de seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
Lucia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela".

(Eduardo Galeano, página 20 de "O livro dos abraços").

Daí você lê, fecha o livro, olha pr’aquelas carinhas miúdas que devolvem o olhar para você como que dizendo "tá, e daí?". E então você devolve a pergunta "tá, e daí?". E o melhor de tudo é o silêncio que fica. Essencial para se tocar a aula adiante. Até quem sabe, no meio dela, ser interpelado por uma pergunta: "Quem inventou a escada, professor, queria subir ou queria descer?". 
E aí, eu acho, você sente que muita coisa nessa vida vale toda uma existência.
A leitura e toda sua individualidade poderiam abrir espaço para a leitura e toda sua possibilidade de ser vivida-compartilhada, não é mesmo? Ler com os ouvidos e ler com os demais são práticas que se escondem no cotidiano, inclusive de uma escola, de uma sala de aula. E que pedem para ser encontradas, minuciosamente, nos cantos de solidão pelas quais se espreitam.
Mergulho, então, nos livros e nas histórias que me levaram a subir e a descer escadas e a querer torná-los lidos por mais pessoas. Em alguns muitos que hoje em dia leio para a guriada, sentindo que eles (os livros) podem ser caminhos para eles (os alunos) dentro deles mesmos. Podem ser portas nas quais eles entrem e façam moradia. Em uma bolsa amarela, por exemplo, em um sofá estampado, em uma distância entre as coisas, em um livro invisível.
Umas das minhas maiores conquistas tem se tornado recorrente. É ouvir toda semana dos alunos, assim que eu entro em sala, a pergunta: Vai ler pra gente hoje, professor? A pergunta por si só basta. Mas a ela e à resposta que dou, vem acompanhado um comentário tão maravilhoso quanto. Se digo “não, hoje não será possível, há bastante coisas a produzirmos, conteúdo e afins”, o desalentado “aaaah” quase me faz mudar de ideia e esquecer do planejado para aquela aula. Se digo “sim, e será agora”, o rápido movimento que a turma faz de logo silenciar para ouvir o que tenho a ler me faz pensar que só aquilo já basta. Às vezes o ato de ler tem uma importância menor do que os movimentos oriundos de tal prática. A vida significando pelas arestas. Das margens para o centro. E voltando às margens.
Não se pode andar só pra frente.
Um texto precisa do leitor para existir. A leitura precisa ser compartilhada para existir.

Ítalo Puccini