domingo, 28 de junho de 2009

"E o mundo é vasto", ainda bem que muito vasto.

     Ler os contos de Maria Valéria Rezende é mergulhar num universo narrativo precioso e encantador, que “envolve, desarma, e então nos golpeia com uma delicadeza fulminante”, como consta na contracapa de um dos seus livros de contos, Modos de apanhar pássaros à mão, o mais recente.
     Li os escritos desta autora durante esta semana. Iniciei com o romance O voo da guará vermelha, sobre o qual escreverei em outro momento, visto que merece muito uma segunda leitura, e então emendei seus dois livros de contos: o já citado no parágrafo anterior, e em seguida Vasto Mundo, seu primeiro livro de narrativas.
     Ler a narrativa de Maria Valéria Rezende é também se deparar com uma infinidade de personagens apaixonantes, sedutoramente singelos, que transbordam vidas e sentimentos. É acompanhar rotinas marcadas por amores brutos e sonhadores, por sonhos e perdas, pelo que há de fantástico e de real em viver; é passear no campo das emoções. Não há como sair ileso deste passeio, destas leituras.
     Suas narrativas são repletas de metáforas e de musicalidade, como neste trecho: “Era bom fazer um mundo melhor e aos poucos passou a viver como se o que inventava fosse a verdade, como se as notícias funestas é que fossem invenções de alguma alma maldosa que se apossara do correio. Já não se sentia mentindo, apenas interpretando a verdade que se escondia por detrás de palavras desencontradas”. E não só os títulos de seus livros são convidativos; os dos contos também: “Toda dor tem fim”; “Melodrama ou a dama da noiva”; “O tempo em que Dona Eulália Foi Feliz”; “Aurora dos Prazeres”; e “Olhares”.
     O leitor é convidado a conhecer espaços desconhecidos, porém acolhedores logo de entrada. Os lugares vão fazendo parte de nosso mundo, e nós leitores transformando aquele lugar e aqueles personagens, dando-lhes ainda mais vida do que já transbordam; não é possível definir quem invade o espaço de quem. Há uma cumplicidade na leitura das narrativas de Maria Valéria Rezende que deixam marcas pelo encantamento. Estou ainda sob efeito disto. E assim desejo permanecer.

Ítalo Puccini