segunda-feira, 1 de junho de 2009

nas tuas mãos, um corpo estranho





















     Há dois meses, mais ou menos, li dois livros da Adriana Lunardi, brasileira de quem eu não havia lido nada até então. Li "Vésperas", um livro de contos muitíssimo bem escritos, nos quais ela recria a morte de nove grandes autores da literatura mundial, e li também "Corpo estranho", sua estreia no romance.
     A escrita de Adriana me ficou martelando por um bom tempo. Uma escrita repleta de descrições, cuidadosa nos detalhes, que envolve o leitor durante sua leitura, propondo-lhe uma leitura cadenciada e atenta, muito diferente de outros livros e autores que eu havia lido ou estava lendo até aquele momento. E assim fiquei, apenas pensando nos dois livros e na escrita de Adriana. Até que me deparei com a portuguesa Inês Pedrosa, e com dois livros seus: "Fica comigo esta noite" (contos), e "Nas tuas mãos" (romance).
     Também, assim como com os livros da Adriana, li primeiro o de contos da Inês, e depois parti para o romance "Nas tuas mãos". E foi nesse momento de leitura deste romance que a lembrança do "Corpo estranho" voltou a me martelar. Senti, durante esta última leitura, muito do que eu havia sentido enquanto lia o romance da Adriana: a escrita cuidadosa, a leitura cadenciada, os detalhes físicos dos ambientes, e as emoções das personagens sendo expostas de maneira leve e dolorosa, porém libertadora.
Identifiquei-me demais com estas duas autoras e suas formas de escrita. Identifiquei-me muito com as personagens criadas por elas: Mariana, Manu, Paulo e José, em Corpo Estranho, com as estranhezas corpóreas de quem somos, as dores sucessivas das perdas que sofremos, a iminência da morte, a solidão, e o desapego. Jenny (mais Tó Zé e Pedro), Camila, e Natália, em "Nas tuas mãos", também com suas solidões, suas perdas amorosas, suas relações dolorosas, e seus escapes: o diário de Jenny, o álbum de fotografias de Camila, e as cartas de Natália.
     A dificuldade de se relacionar é elemento presente entre as personagens dos dois livros, que, em minha mente, misturam-se agora com muita frequência, e me levam a divagar uma possível relação entre elas, que lhes ajudasse a se descobrir mais. Ou não, ou melhor para estas personagens mesmo fora somente a convivência, e as marcas que ficam de cada um em cada corpo, em cada registro.
      Ao leitor, nas tuas mãos, uns corpos estranhos, inquietantes, e apaixonantes.

Ítalo Puccini