sexta-feira, 2 de outubro de 2009

o livro é. apenas. o amor é. também.

     reli o livro “as mãos”, do manoel ricardo de lima.
     já havia lido esse livro anos atrás.
     encontrei-o na biblio do sesc. peguei-o. li-o.
     gosto desse livro. gosto da narrativa – intimista, a meu ver – criada pelo manoel. da narrativa que, segundo consta na orelha do livro, tem pretensão de ser de amor, mas que nem por isso seja: “Este livro é só uma história de amor, como acredito que seja qualquer história de amor: uma alegria, uma impossibilidade, um gesto, um confinamento, uma delicadeza”.
     é um livro dividido em cinco capítulos: um, dois, três, quatro, um. começa onde termina. termina onde começa. como o amor, não? ou melhor, sem começo e sem fim. não é para ser entendido. como o amor. “este livro é somente”, ainda consta na orelha. começa com “um confinamento de tempo, tudo é dentro de casa. Entre paredes”. termina com “é que Lá fora, custa-me dizer, não existe mais”. é onde vírgulas e pontos se perdem.
     deixo aqui um trechinho. aquele que eu mais releio. não sei o porquê. nem há necessidade de se saber. apenas é. como o livro.
     “Apanhava as mãos, soltas, enrijecia os músculos do antebraço, erguia os ombros a cada tom mais alto, ou mais baixo, tanto fazia, creio, era sincero vê-La dar ordem ao piano, cantar: dizia a Ela, das mãos. Dizia do aperto, da frouxidão de existir, da possibilidade de terminar a canção, daquele fim de passeio ao piano, do preenchimento da casa, e me dava. Sem diminuir o nariz, para frente, cheirava o ar, fundo, olhava sério, sorria e me repetia a frase que um dia disse, eu, sem querer, em caminhada pelo parque, em dispersão sobre música poesia e água corrente, sobre a forma que Ela delineava o piano e sobre a atenção que me engolia estar ao lado, estivesse onde, fazendo o que fosse, parava tudo para ouvi-La, vê-La: Perto não se fica a quem não se conhece as mãos. Sorri, tímido, mas sorri com alegria que nem longe agora imagino descrever, nem conseguiria. Tudo está, parece-me, desapercebido” (p. 17)
     ah, e reler esse livro me fez voltar a ouvir nei lisboa.

ítalo puccini