terça-feira, 18 de agosto de 2009

a vida por meio de histórias

      "No último texto que escrevi neste espaço, fiz referência ao tema do 17° COLE – Congresso de Leitura do País –, a necessidade de “transver o mundo”, citada pelo poeta Manoel de Barros nos versos “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo”. E essa necessidade pressupõe uma tomada de consciência de que o ato de ler é, também e principalmente, saber ler a si mesmo e ao outro com o qual se estabelece uma relação de viver.
      Diante disso, a leitura literária é, sublinhe-se, uma modalidade de leitura existente, o que significa que há outras formas de leitura, formas estas que, não é arriscado afirmar, desfrutam de maior trânsito social, como, por exemplo, a leitura dinâmica de imagens, de jornais, e de revistas, as quais fazemos quase que diariamente.
      Como estudante de Letras e professor de Literatura, a leitura do texto literário faz parte do meu dia-a-dia, e o como trabalhar esse texto literário em sala de aula é um pensar que me acompanha da mesma forma diariamente. Sendo assim, como pesquisador que me tornei nesses anos de estudos acadêmicos, venho desenvolvendo pesquisas com o intuito de investigar possibilidades de o professor explorar o texto literário em sala de aula junto aos alunos.
     Fui, então, ao 17° COLE, em Campinas, apresentar os dados parciais da minha atual pesquisa, “A leitura literária no espaço escolar”, na qual proponho a realização de Círculos de Leitura com alunos do Ensino Médio, círculos estes nos quais trabalho com diferentes leituras de diferentes textos literários, contemporâneos e clássicos, justamente com o objetivo de, juntos, explorarmos a construção de sentidos junto a esse tipo de texto, no qual a imaginação ultrapassa fronteiras, contribuindo para a liberdade de interpretação e de respeito pelas diferenças.
     Aqui em Jaraguá do Sul, esta semana, iniciarei os Círculos de Leitura com alguns alunos do primeiro ano do Ensino Médio de um determinado colégio. E todo esse movimento acontece devido a duas crenças que tenho: a primeira, de que é na interação leitor-texto que a literatura merece ser discutida em sala de aula. Mais ainda, de que ensinar literatura significa mediar com o aluno o desenvolvimento da sua capacidade em transformar informação em conhecimento, envolvendo compreensão, interpretação e reconstrução do texto. E a segunda, a de que é a partir das histórias que lemos que podemos nos constituir como sujeito, que podemos transver essa realidade na qual vivemos.
      O historiador e crítico literário Alberto Manguel, certa vez lançou a indagação “se as histórias são capazes de mudar quem somos e o mundo em que vivemos”. Eu acredito que sim. E acredito porque senti – e continuo sentindo – o quanto as histórias que já li mudaram meu eu, mudaram minha forma de pensar, de sentir, e de agir no mundo. E é também pensando nisso que me arrisco em propor pesquisas e atividades de reflexão como a citada neste texto. E o próprio Manguel apresentou uma resposta à pergunta que fez, a qual encerra este escrito: “As histórias podem alimentar nossa mente, levando-nos talvez não ao conhecimento de quem somos, mas ao menos à consciência de que existimos – uma consciência essencial, que se desenvolve pelo confronto com a voz alheia”.

Ítalo Puccini