quarta-feira, 19 de agosto de 2009

sobre como ler e escrever em um ônibus em movimento

      título longo, mas fazer o quê, se aqui escrevo justamente sobre o que ali prenunciei.
      ia eu hoje para a univille, de ônibus, daqueles circular mesmo, pois havia passado o dia em joinville, na casa do pai. e ia eu lá no fundo do ônibus, sentadinho, com meu livro à mão, o "rilke shake", da angélica freitas, sobre o qual tem alguma coisa no post abaixo.
      e, como é possível perceber lendo o tal post abaixo, encantei-me com vários dos versos do livro da angélica. e me vi numa situação complicada. tinha a lapiseira à mão, junto com o livro, mas eita dificuldade que encontrei em sublinhar um ou outro verso, ou em destacar um trecho, ou em escrever algo no livro, registrar algum sentido.
      daí que me dei conta do quanto é difícil escrever com um ônibus em movimento. vixe!
     lembro-me de que outras vezes já tentei isto, e, claro, também sem sucesso. restou-me, então, segurar o dedo na página em que queria marcar algo e, a cada sinaleiro ou parada do ônibus, eu rápido fazia a sinalização que queria no livro, e podia continuar a leitura. contar com a memória para registrar depois é que eu não iria. ela, a memória, vive a me trair. daí que vivo a escrever, pois é o meio que encontro para não deixar passar muito do que vivo.
     fica aqui, então, um poeminha da angélica, que achei lindíssimo, e que muito combina comigo.
muito mesmo.
      diz assim, ó:
"Entro na livraria do bobo.
não tenho dinheiro
e tampouco tenho talento para o crime.
____
desfilam ante meus olhos
títulos maravilhosos
moribundos de tanto estar
nas prateleiras.
_______
roube-nos, dizem eles.
não agüentamos mais ficar aqui
na livraria do bobo.
______
quem acreditaria
nesta versão dos fatos?
ajudem-me, maragatos
nesta hora afanérrima
de uma libertadora paupérrima
de livros.
________
retumba meu coração. retumba
mais que a bateria do salgueiro.
treme o corpo por inteiro
e as mãos já suam em bicas.
________
ganho a rua, as mãos vazias
e os livros gritam: maricas".

ítalo puccini