segunda-feira, 7 de setembro de 2009

mais de marcelino freire






















     no momento em que fui guardar “rasif, mar que arrebenta”, do marcelino freire, na estante da biblio do sesc, encontrei outros dois livros dele, também de contos. Foi um movimento só, colocar lá “rasif”, e tirar de lá “angu de sangue” e “baléralé”.
     outros dois livros com contos fortes, escritos com precisão, com coragem, com sensibilidade cruel. "angu de sangue" apresenta caroços sociais dos mais reais (perdoem-me a frase cacófona), com uma linguagem que explora os limites do gênero. Ora são diálogos indiretos e ferventes, ora é uma conversa truncada, repleta de vazios, de incompletude; como a vida.
     escreveu assim o marcelo mirisola, na orelha do livro: “Taí. O ‘estar fudido’ é o único destino honesto que um autor pode desejar aos seus personagens e leitores”. e é preciso aceitar essa oferenda. como é preciso sentir o que vem por aí ao se deparar com a epígrafe do livro. cortantes palavras do ariano suassuna: “Eu precisaria de alguém / que me ouvisse. Mas que / me ouvisse sentindo cada / palavra como um tiro ou / uma facada. Cada palavra / e seu significado / sangrento”. angu de sangue é bom para ouvi-las.
     já “baléralé” é um livro em que nos contos são exploradas questões como a individualidade das personagens: confusões mentais, estados emocionais, opções sexuais (êta frase horrível! de novo!).
      se em “angu de sangue” é perceptível uma denúncia social através de personagens escancarados ao leitor, em “baléralé” os contos exploram muito mais as identidades sexuais das personagens. há cenas fortes de sexo, intimidadoras, que podem assustar algum leitor mais desavisado. e a força da escrita do marcelino freire fica ainda mais evidente neste livro. não há um desgaste no trato com as palavras. os contos são em sua maioria curtos, precisos, sem mais nem menos. chegam e socam o leitor. simples e cortantes.

ítalo puccini