‘Tava eu lendo umas coisitas teóricas sobre práticas de leitura e sobre a questão dos professores serem, ou não, sujeitos-leitores, quando me deparei com um texto em que a autora, com um embasamento teórico bem apresentável, indica uma “tipologia de leitores”, na qual ela classifica os professores participantes da pesquisa dela em “grupos de leitores”. Algo bem interessante de se pensar, nos tipos de leitores que somos. Porém, com a relevância de não nos limitarmos a essas categorias, uma vez que a leitura – e consequentemente os leitores – não pode ser pensada somente dentro de categorias.
Identifiquei-me
em três das tipologias apresentadas pela autora (inclusive, preciso fazer
referência a ela, ora pois: Ângela da Rocha Rolla, Doutora em Teoria Literária /PUCRS).
E importante ressaltar que as descrições dessas tipologias apresentam como
fundamento as vozes dos professores por ela entrevistados para a pesquisa.
Vamos lá:
1. Leitor
compulsivo: É eclético: da história em quadrinhos ao último lançamento de um
escritor valorizado pela crítica, tudo lhe desperta a curiosidade. Lê o que lhe
cai nas mãos, mas mostra um espírito crítico em relação aos textos, emitindo
opiniões a respeito de autores e obras. Tem livro espalhado por toda a casa, a
leitura está em primeiro plano: são pilhas de livros que compra ou pede
emprestado. Adora frequentar bibliotecas ou tem a sua própria. Lê de tudo a
toda hora, lê no ônibus, no banheiro, lê na hora de dormir. Qualquer minuto
livre que tem, ocupa nessa atividade. Às vezes até esquece que tem corpo,
embriaga-se com a leitura.
(Já fui mais
compulsivo. Mas a essência não se perde).
2. Leitor
profissional: Não é um leitor ingênuo, ele lê para analisar estilos, buscando o
valor estético das obras. A leitura literária e a produção de textos fazem
parte de seu cotidiano profissional, são o instrumento do seu trabalho. Suas
leituras constituem-se de obras técnicas sobre teoria literária e obras
literárias de autores clássicos e modernos. Frequenta livrarias e círculos de
leitores, tem um apreço especial por livros, que adquire com frequência, na
medida de suas condições financeiras. Lê ficção para fundamentar as atividades
voltadas ao ensino de literatura, oficinas de leitura, redação de artigos,
projetos de pesquisa e também para seu lazer. A produção de textos é exigência
do trabalho profissional, que apresenta oportunidades de realização de
palestras, conferências, defesas de tese, publicações, etc. Faz leituras
informativas, técnicas e literárias. É um iniciado em estudos literários. A
leitura é prioritária na sua vida, constituindo-se não em trabalho penoso, mas
em atividade realizadas com prazer.
3. Leitor
escolar: Lê com um objetivo principal: indicar obras literárias para os alunos.
Há uma preocupação com o trabalho didático, que absorve toda a sua
disponibilidade para a leitura. Esta se reveste de obrigatoriedade, com a
finalidade única de desenvolver seu trabalho docente, que consiste na análise e
no comentário das obras solicitadas, cujo assunto não diz respeito aos seus
interesses, nem ao seu gosto literário, principalmente quando se trata de
literatura infantojuvenil. Por força da necessidade imediata e do pouco tempo
disponível, realiza leituras rápidas, sem fruição. As leituras escolares não
são consideradas leituras de lazer, para as quais na há espaço no cotidiano
desse leitor.
Há, ainda:
Leitor
Diletante: É um leitor ingênuo, que lê sem conhecimento prévio, por puro
prazer. Tem um livro de ficção na cabeceira. Lê obras de autores consagrados ou
popularmente conhecidos. Prefere literatura de consumo fácil: histórias de amor
e de suspense, enredos de folhetim. Os critérios de escolha para ler são
aleatórios, ao sabor do momento.
Leitor
apressado: Caracteriza-se por ser um sujeito dinâmico, muito ocupado com o
trabalho, que lhe deixe poucas horas diárias de lazer. Lê para se informar dos
acontecimentos recentes e para se atualizar em assuntos diversos como política,
religião, pedagogia, psicologia, espiritismo, etc. Não lê ficção ou lê
eventualmente.
Leitor
superficial: Lê eventualmente, sem privilegiar um tipo de leitura. Não
manifesta preocupação com o valor estético das obras, nem mesmo as avalia.
Escolhe os textos ao acaso, o que lhe cai nas mãos, geralmente a literatura de
massa ou gêneros já consagrados, como o romance romântico. Não costuma realizar
leituras para aprimoramento profissional, preferindo as de caráter utilitário e
informativo.
Leitor
técnico: Faz leituras para estudo do trabalho docente ou de algum curso de
especialização que está realizando. São leituras técnicas que versam sobre
assuntos relativos às disciplinas que está cursando como aluno ou para
aprofundamento teórico no campo profissional. As leituras informativas se
reduzem a uma rápida olhada no jornal do dia, sem espaço para as reportagens de
revistas. A leitura literária está ausente, raramente lê ficção, porque a
leitura científica lhe toma todo o tempo disponível.
Não-leitor:
Com uma história de vida distante dos livros, sem valorização da família na
primeira infância, o não-leitor apresenta um comportamento avesso à leitura
literária. Tem um contato esporádico com periódicos, que lê para se informar
dos acontecimentos recentes e não consegue acompanhar um texto ficcional até o
fim. Não dispõe de uma biblioteca, estando a leitura como lazer distante do seu
cotidiano, que também dispensa hábitos culturais como cinema, teatro, músicas,
esporte e outros.
E eu lanço
aqui a proposta de que os leitores desta croniqueta possam registrar com quais
tipologias se identificam, em que tipos de leitores acreditam que se encaixam. Enfim,
que possamos pensar um pouco nos leitores que somos, ou que ainda podemos ser.
Ítalo Puccini
Ítalo Puccini