é um livro pequeno. de capa toda amarela
chamativa. ainda mais quando verificado o nome de
quem o escreveu: tim burton. o cineasta que dirigiu filmes como "Edward,
mãos de tesoura", "A noiva
cadáver", "A fantástica fábrica de chocolate", "Peixe
grande" e "Alice no país das maravilhas". ele mesmo é o autor de “O triste fim do pequeno menino ostra e outras
histórias”, livro cujo título, ao contrário da capa, talvez não atraia
em um primeiro momento, nem mesmo em um segundo olhar. pois não é fácil se
encantar por histórias no mínimo pitorescas, para não dizer assustadoras.
da forma como o livro é construído, com ilustrações feitas pelo próprio autor – que remetem ao traço já característico em seus filmes, misturando susto e encanto, cores e preto e branco – e com a escrita das narrativas em versos, passa-se a impressão de ser um livro destinado ao público infantil, que conquista pelo encantamento entre imagens e histórias, quase como se fossem poemas. mas eis o engano. esses textos de burton são narrativas que apresentam a poesia trágica e desconcertante do viver.
há, por exemplo, narrativas como esta:
“O melão melancólico
Era uma vez um melão melancólico.
Passava o dia inteiro macambúzio.
Querendo a hora do próprio velório.
Ora, cuidado com os teus pedidos!
Pois o dele foi de pronto atendido.
O último som que entrou em seus ouvidos
Foi o “ploft” em que acabou dissolvido”.
e outras mais, como a de breno, o menino veneno,
que encontra seu triste fim quando é colocado para respirar ao ar livre num dia
de verão, o que deixa no leitor a indagação se há contradição de vida mais
trágica do que essa. em outro caso, a menina trash, que tinha "a cara suja
de carvão / A pele de puro cascão / E uma catinga de gambá" foge do
casamento com o gari pulando em um triturador de lixo. e o leitor fica assim
mesmo, perguntando-se como e por que este fim a ela? sem contar o caso do menino
ostra, o anunciado na capa do livro, que acaba devorado pelo pai, quando este
buscava um afrodisíaco para melhorar seu desempenho sexual. e após o enterro do
filho a cena é esta:
"Já em casa, na cama quentinha
Papai beija mamãe, se abraçam
de conchinha:
'Vem, meu bem, hoje estou com toda a
adrenalina!'
'Ok', ela sussurra, 'só que desta vez
tem de ser uma menina’”.
e a vida segue. como se comer o filho não
fosse nada, afinal, basta fazer outro, desde que seja uma menina, segundo a
mãe.
o título do texto que dá nome ao livro, “Triste fim do pequeno menino ostra”, já indica o que há de mais presente na obra: o tom trágico que perpassa as histórias. finais que chocam pela simplicidade narrativa a qual deixa os leitores com cara de paisagem, perguntando-se como foi possível terminar daquele modo tal história.
há, também, uma construção de personagens nitidamente deslocados de uma suposta normalidade social, característica similar à dos filmes de burton. personagens que existem - ou ao menos tentam - nas laterais, nas sobras, nas rebarbas da existência. conforme consta em uma das orelhas do livro, "Como seus personagens, este livro parece deslocado. Não se enquadra em nenhum nicho. É triste, mas engraçado. É infantil, mas adulto. A mente de Burton é um universo à parte. E este livro parece ser sua melhor radiografia".
há tudo de infantil na capa do livro, e nos desenhos, e na forma como os textos são escritos e se apresentam a quem os lê. porém, toda leitura requer um cuidado quando direcionada a crianças, no sentido de adequadamente se mediar a interação entre universos tão diferentes como costumam ser os de uma criança e os de uma mente como a de burton.
por fim, toda leitura pede um momento para acontecer. é preciso respeitar a formação leitora de cada pessoa. e se os filmes de tim burton podem ser menos impactantes, o convidativo livro do cineasta pede um cuidado sobre as possíveis formas de condução de uma leitura. afinal, de trágica já basta a vida, segundo burton.
da forma como o livro é construído, com ilustrações feitas pelo próprio autor – que remetem ao traço já característico em seus filmes, misturando susto e encanto, cores e preto e branco – e com a escrita das narrativas em versos, passa-se a impressão de ser um livro destinado ao público infantil, que conquista pelo encantamento entre imagens e histórias, quase como se fossem poemas. mas eis o engano. esses textos de burton são narrativas que apresentam a poesia trágica e desconcertante do viver.
há, por exemplo, narrativas como esta:
Passava o dia inteiro macambúzio.
Querendo a hora do próprio velório.
Pois o dele foi de pronto atendido.
O último som que entrou em seus ouvidos
Foi o “ploft” em que acabou dissolvido”.
Papai beija mamãe, se abraçam
de conchinha:
'Vem, meu bem, hoje estou com toda a
adrenalina!'
tem de ser uma menina’”.
o título do texto que dá nome ao livro, “Triste fim do pequeno menino ostra”, já indica o que há de mais presente na obra: o tom trágico que perpassa as histórias. finais que chocam pela simplicidade narrativa a qual deixa os leitores com cara de paisagem, perguntando-se como foi possível terminar daquele modo tal história.
há, também, uma construção de personagens nitidamente deslocados de uma suposta normalidade social, característica similar à dos filmes de burton. personagens que existem - ou ao menos tentam - nas laterais, nas sobras, nas rebarbas da existência. conforme consta em uma das orelhas do livro, "Como seus personagens, este livro parece deslocado. Não se enquadra em nenhum nicho. É triste, mas engraçado. É infantil, mas adulto. A mente de Burton é um universo à parte. E este livro parece ser sua melhor radiografia".
há tudo de infantil na capa do livro, e nos desenhos, e na forma como os textos são escritos e se apresentam a quem os lê. porém, toda leitura requer um cuidado quando direcionada a crianças, no sentido de adequadamente se mediar a interação entre universos tão diferentes como costumam ser os de uma criança e os de uma mente como a de burton.
por fim, toda leitura pede um momento para acontecer. é preciso respeitar a formação leitora de cada pessoa. e se os filmes de tim burton podem ser menos impactantes, o convidativo livro do cineasta pede um cuidado sobre as possíveis formas de condução de uma leitura. afinal, de trágica já basta a vida, segundo burton.
ítalo puccini