segunda-feira, 8 de março de 2010

carta pra regininha - a primeira

      se me chamas de parceirinho, chamo-a de parceirinha também. parceirinha de escritas, de livros e de leituras.
      não pensei que minhas simplórias opiniões e indagações fossem despertar em ti um pensar mais aprofundado sobre questões como: gostar/não-gostar de leituras: até que ponto a experiência influencia? ou: o que há de colagem de histórias em harry potter, que não há nas outras produções infantojuvenis (perdeu o hífen, sabias? nem seu sabia, até hoje, graças ao eduardo), que provêm, justamente, de mitos e lendas e afins. pois sim, pois sim. comentários despretensiosos assim resultaram, até o momento, em duas cartas tuas endereçadas a mim, explicando-me um pouco dessas indagações por mim levantadas. 
      e então segue aqui uma carta-resposta as tuas duas cartas. e o desejo de que possamos ir “trocando” mais e mais. e de que mais leitores possam tirar algum proveito disso.
      gosto de pensar da forma como você escreve na primeira carta: da literatura que deve encantar ao invés de ensinar. que deve conquistar pelo que há de beleza nela, pela representação da condição humana que ela impõe a nós, leitores, e também pelo que ela nos impele a “pensar-além”, estranhando justamente estes humanos que somos. e isso pensando também, e muito, nas obras infantojuvenis, destinadas à criançada, mas que não contenham, mesmo, essa ideia de moral educadora.
      para também tornar mais concreto o assunto, vou-me utilizar do meu trabalho como professor. e é mais ou menos por aí que desenvolvo minhas aulitas com a guriada de 5ª a 8ª séries (6º ao 9º anos). pela possibilidade de encantamento junto ao texto literário. pela beleza de uma história, pela identificação com alguns personagens, pela delicadeza no trato com as palavras. pelo que ela leva eles, leitores, a esse “ir-além”.
      de fato, esses leitores-em-formação (ok, todos somos, ainda bem, leitores-em-formação, mas é que eles estão no início mesmo da caminhada independente de leitores). então, esses leitores-em-formação de fato se identificam com as leituras em série lançadas pelo mercado editorial. e me cobram isto com todos os argumentos possíveis. e é nesse toma lá da cá que faço a argumentação de histórias como “moby dick”, “robinson crusoé”, “o sofá estampado”, “o menino do pijama listrado”, e “de repente nas profundezas do bosque”, por exemplo, que são algumas das que trabalho com eles. e que são histórias com as quais eles, no durante e no após a leitura, identificam-se demais, demais. envolvem-se mesmo. mas, como não poderia deixar de ser, continuam a me cobrar leituras de séries como “crepúsculo” e “harry potter”, citadas por ti em tua primeira carta.
      gostei da comparação que apresentastes, na segunda carta, de “o ladrão de raios” e “os doze trabalhos de hércules”. certamente que conhecer as duas histórias me facilitaria muito, muito, um entendimento mais aprimorado do que dizes, mas já me foi suficiente para entender tua argumentação de que “harry potter” é uma história feita de colagens de outras. eu tô lendo o primeiro dos sete. muito porque a nice leu todos e tanto me falou, falou, falou, que comecei a lê-los. se vou ‘guentar até o final, não sei. mas é algo que a mim mesmo será interessante de observar. pois com a saga crepuscular, por exemplo, nem do primeiro consegui chegar perto.
      talvez eu tenha me desvirtuado de teus dizeres nas cartas. mas acho que isso é bom, sabes. nossas cartas vão, assim, abrindo novos horizontes de pensares e de assuntos relacionados a essa coisa que tanto nos envolve: o ler.
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ítalo puccini