terça-feira, 15 de dezembro de 2020

orelha ledoux



só o amor escapa por entre os dedos da ilusão, ledoux, solto animal que a vida refugiou. feito folhas de outono caindo no inverno frio. em câmera lenta. onde estiver um bem te quer, quem mal te quer despetalou, em lentidão e sutileza, por entre afetos que te infestam e afetam desde feto. o amor que vai se libertar: seio do afeto na fúria de se alimentar. força escondida num simples gesto, modus operandis de se agir e se pensar, a abrir teus olhos todas as manhãs com a ponta dos dedos, pois, se não houver amor, não haverá humildade, clareza e perdão, o perdão aos atrasos diários e às imperfeições em dias de amargar e de chuvas torrenciais. tudo em tua retina retinta, ledoux, pintura detalhista em grande escala, abrigo que te convém nesse destino. vento que vem leve, vento que vem furacão e delírio. vento que há de te levar, força da tua voz e verbo. feito o sol, bola de bilhar que brilha nas águas de espelho de teu olhar e se acaba na fruta do brincar: desatino, abraço, amasso e estrepolia. a beleza nos olhos de jabuticaba e a certeza do fim do trabalho de mais um dia. o que querer mais dessa vida, não é mesmo, ledoux? tu que, com esse novo trabalho, mostra-nos como tuas músicas são a singeleza exibida na moldura da alma, a flor da esperança e do encontro.

ítalo puccini