só o amor escapa
por entre os dedos da ilusão, ledoux, solto animal que a vida refugiou. feito
folhas de outono caindo no inverno frio. em câmera lenta. onde estiver um bem
te quer, quem mal te quer despetalou, em lentidão e sutileza, por entre afetos
que te infestam e afetam desde feto. o amor que vai se libertar: seio do afeto
na fúria de se alimentar. força escondida num simples gesto, modus operandis de
se agir e se pensar, a abrir teus olhos todas as manhãs com a ponta dos dedos,
pois, se não houver amor, não haverá humildade, clareza e perdão, o perdão aos
atrasos diários e às imperfeições em dias de amargar e de chuvas torrenciais. tudo
em tua retina retinta, ledoux, pintura detalhista em grande escala, abrigo que
te convém nesse destino. vento que vem leve, vento que vem furacão e delírio. vento
que há de te levar, força da tua voz e verbo. feito o sol, bola de bilhar que
brilha nas águas de espelho de teu olhar e se acaba na fruta do brincar:
desatino, abraço, amasso e estrepolia. a beleza nos olhos de jabuticaba e a
certeza do fim do trabalho de mais um dia. o que querer mais dessa vida, não é
mesmo, ledoux? tu que, com esse novo trabalho, mostra-nos como tuas músicas são
a singeleza exibida na moldura da alma, a flor da esperança e do encontro.
ítalo puccini