sexta-feira, 14 de maio de 2010

dentro de livros

      eu me pergunto como e por que leio tanto e como e por que acumulo cada vez mais leituras, feitas e a fazer. sem contar as releituras. ou não, como diria caetâno (o acento aqui é só para tornar a palavra escrita mais próxima da falada). ou eu poderia pensar como e por que não leio tanto quanto eu gostaria. ou como e por que eu me envolvo a tantos e tantos mais livros.
      acho que se me fosse permitido realizar dois desejos-bobos, eu escolheria: deixar de torcer por qualquer time em qualquer esporte (é muito sofrimento, gente, cês não têm noção!); e viver dentro dos livros. dentro mesmo. como se os livros fossem casa, sabem, moradias. ah, dia-a-dia eu me mudaria. viveria com novas gentes, em novas lugares, fazendo coisas tantas novas.
      metaforicamente, é possível mesmo. e bonito de se pensar. e de dizer. metaforicamente, eu vivo entre livros. à minha frente, atrás, aos meus lados, é só livro. ôxe. e como eu gosto desses putos objetos. só não gosto tanto deles quanto gosto, ou às vezes não gosto mesmo, dos personagens que moram neles. baita inveja, visse?
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      hoje eu li um outro livro da eliane brum, "a vida que ningúem vê". um livro repleto de personagens que são também pessoas reais. um livro de reportagens. de histórias de vida. característica da eliane esta de contar histórias de gentes. e há coisa melhor do que conhecer histórias de gentes?
     ler livros (refiro-me aqui aos literários, aos que contam histórias mesmo) é um constante apaixonar-se. e é uma paixão sem traição, sem cobrança, sem ciumeira. é um ato de entrega sem esperar nada em troca. existe melhor forma de paixão?
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      comecei a ler hoje também "fontamara", do ignazio silone. e amei o que li até agora. e me apaixonei por "fontamara". um lugar em que nada, nunca, acontece. tudo só acontece de novo. repete-se. e depois de novo. e mais não é preciso, acho.
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       e "fontamara" reavivou em mim "antes de nascer o mundo", do mia couto. e o pai e os dois filhos ali presentes. e a ausência da mãe, e o surgimento de uma nova mulher. e que saudade me deu destas gentes aí, destas vidas maravilhosamente contadas, entregues a nós, leitores.
      e me veio a vontade de habitar também, por dias e dias, aquele lugarejo de antes que o mundo tenha chegado lá. e eu então me peguei pensando o que seria de mim sem esta história? ou sem conhecer as vidas escancaradas por eliane, ou sem saber do que acontece na localidade de fontamara.
       o que seria de mim?

ítalo puccini