segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um fio de esperança


Mais uma guerra sem razão
Já são tantas as crianças
Com armas na mão
Mas explicam novamente
Que a guerra gera empregos
Aumenta a produção...

Uma guerra sempre avança
A tecnologia
Mesmo sendo guerra santa
Quente, morna ou fria
Prá que exportar comida?
Se as armas dão mais lucros
Na exportação.

(Canção do Senhor da Guerra, Legião Urbana)

            A produção mais recente das três abordadas neste ensaio é de autoria de Marjolijn Hof, escritora holandesa. Seu livro, aqui no Brasil traduzido com o título de “Um fio de esperança”, publicado em 2010 também pela Editora Martins Fontes, coloca diante do leitor a história de Lili, uma menina que sente na pele a agonia da espera por alguém que partiu para guerrear, com ou sem manual à disposição.
            Mesmo tendo aprendido com seu pai que acidentes acontecem em qualquer lugar, Lili narra o livro deixando claro que entre a teoria ensinada pelo pai e a prática de senti-lo longe, sem notícias frequentes, e exposto a um ambiente de guerra, fica um fio de esperança de que acidente nenhum aconteça, ainda mais devido à atividade que seu pai realizava por lá: “Meu pai ia para a guerra. A bagagem já estava pronta, só faltava dizer tchau. Ele ia bastante para a guerra. Pelo menos uma vez por ano. Em geral, as pessoas fogem da guerra como o diabo foge da cruz, mas meu pai ia lá para trabalhar. Ele é médico humanitário: no campo de batalha, precisam de gente como ele. Ele gostava muito de ser útil”.
            É assim que começa o livro. Com esta apresentação, escrita por Lili, de seu pai. E a narrativa segue em primeira pessoa, com a garotinha contando ao leitor que seu pai vive indo para a guerra, e que sempre volta. Mas dessa vez ela parece sentir que este ir e voltar não será tão simples. E tenta de todas as formas convencer seu pai disso: “(...) preferia que ele ficasse conosco. E as balas perdidas, então? São mais perigosas que os soldados, porque só fazem o que lhes dá na telha. Vão para onde bem entendem e ninguém dá bola para elas.
            - Balas perdidas não existem – disse papai.
            - Existem sim!
            - Não se preocupe, eu nunca vi nenhuma!
            - O dia em que você vir uma, será tarde demais – respondi”.
            E as conversas assim diretas continuam. Agora entre Lili e sua mãe. E é a partir de uma dessas conversas que a menina decide querer ter um ratinho, além de Mona, a cachorrinha da casa. Isto porque, pensa Lili, a probabilidade de ter um pai morto, um cachorro morto, e um rato morto eram muito menores do que ter somente o pai morto. Assim, ela evitava que acontecesse de ficar sem pai, porque as chances se tornariam muito menores.
            É com essa sensibilidade que o leitor se depara no decorrer desta história. É um deparar-se aliado a uma entrega. Um não querer mais desgrudar de Lili e de seus pensares e de suas ações tão inocentes ao mesmo tempo que tão sensíveis diante de um mundo que lhe apresenta o oposto do que ela pratica.

Ítalo puccini